sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Como será o dia de uma camareira de hotel?

Deitada na rede na varanda do bangalô do hotel onde estava hospedada olhava as camareiras no vaivém diário, na lida cotidiana da limpeza dos quartos do hotel. De roupas de listrinhas, um avental por sobre o vestido, que nada tinha de bonito, um saco amarrado pela cintura, à touca da mesma cor da roupa, tênis e meia, elas empurravam os seus carros por entre as alamedas construídas para isto, e para as passagens dos hóspedes para os seus respectivos aposentos.
O hotel é lindo, não tão moderno, porque fundado pelos idos de 70, por um visionário, que reconhecendo a beleza natural daquela terra, construiu o seu sonho, e deu a oportunidade de que várias pessoas realizassem os seus, inclusive os nativos da própria cidade que, naquele empreendimento, viram nascer à esperança de dias melhores, numa região, que até então era muito pouco conhecida por todos, não que não tivesse história e potencial para sê-lo, mas a falta de recurso para a exploração do seu potencial turístico deixava a desejar.
O fato é que ela estava, mais uma vez, ali, fora antes, lá pelos idos de 80, mas ficou hospedada na casa de uma amiga, em Palmeiras, um Município próximo, foi quando conheceu todas as grutas, as cachoeiras que teve oportunidade, o Capão. Tudo evoluiu, e muito, as pessoas que passaram a freqüentar a região mudaram, o perfil dos visitantes mudou de místicos e “cultuadores de vida livre”, aí incluindo as drogas, passou a receber um outro tipo de público, um turismo ecológico,com mais um pouco de luxo, se é que assim se pode dizer.
Bom mas não é disso que quer falar.  Na sua rede ela olhava as camareiras e começou a imaginar o que aquelas mulheres, no exercício das suas atividades, presenciavam. De imediato lembrou-se do caso bombástico com o diretor do FMI. O Frances que, segundo a camareira, agarrou-a a força dentro do seu apartamento em um hotel em Nova York.  Será que foi mesmo verdade, pensa ela?  Então um homem com aquele status, com um nome a zelar, um representante de uns pais, um possível candidato a primeiro ministro, ia dar uma bobeira desta? Não, não podia crer.
Todavia o fato é que o miserável foi preso, com toda aquela parafernália que os americanos gostam, muito principalmente quando o fato pode ser uma mina de lucros para a imprensa, um escândalo sem proporções, um enlamear a vida de alguém.  Bem verdade que eles também fazem miséria com os seus, lembrem-se de Kennedy com a Marylin Monroe, do Clinton com a mulher do charuto, do Nixon com o Watergate e tantos outros episódios, mas não me lembro de ter visto, em nenhum destes casos, ninguém saindo algemado do hotel, ou de suas residências, aliás, nem me lembro de eles terem sido punidos, a não ser pela opinião pública, assim mesmo, nos dois primeiros casos, com uma ponta, até mesmo, de orgulho, afinal eram governados por homens que gostavam de mulheres, machos que podiam conquistar mais jovens, enfim.  Há que se dizer que, embora a traição fosse pública e notória, as duas mulheres destes dois presidentes americanos optaram por ficarem ao lado deles, heróicas mulheres, ou não queriam perder o status de primeiras damas?
O certo é que o homem foi preso, foi parar numa prisão com direito a holofotes, imprensa internacional, manchetes nos jornais.  A latina, de simples camareira virou noticia de jornal e queria uma indenização milionária, especulações demonstraram que ela era useira e vezeira nisto, além de ligada às drogas.  Mulher feia que nem justificava a tara do ilustre hóspede, que só poderia estar sob o efeito ou de “drogas” ou de muito álcool, a ponto de, com a visão turva, tentar pegar aquele e anti-tesão que era a camareira, que já devia agradecer a Deus ser comida por alguém.
O fato é que, provado ou não, o cara entrou pelo cano a baixo, é como se ele tivesse cagado ele mesmo e dado uma descarga e viesse rolando pela canalização abaixo até chegar ao esgoto geral. Perdeu o cargo, a moral, a dignidade, mas pasmem! A mulher dele continuou ao seu lado, pagou uma fortuna pela liberdade do seu “amado”. Será?
Eu, pessoalmente, penso que não aconteceu nada, mas vá lá saber das taras dos outros.
Lembrando deste fato ela deixou a imaginação fluir e pensava: como estas moças encaram entrar num quarto e encontrar um homem nú, um casal fazendo amor, um casal brigando, um homem enrabando outro, uma mulher tendo relação sexual com outra? O que elas fazem? Como reagiriam?
Vocês podem dizer: Elas são treinadas para isto, a reação seria normal, pediriam desculpas e sairiam dos apartamentos. Ha ha ha! Duvido, não tem treinamento certo para isto.  Primeiro o susto pela própria situação. Se não há qualquer aviso nos quartos de “Not disturb”, o que, aliás, se os hóspedes não souberem falar inglês, nunca vão saber que “Not disturb” é não perturbe, as camareiras podem entrar no quarto.
E se um hóspede se encantar com alguma camareira, tem algumas que são bonitas sim. O que acontece? Será que se a camareira se encantar ela vai dar um jeito de encontrar com o cara ou a cara fora do hotel? Ou será dentro do hotel mesmo?  Será que se a diretoria do hotel descobrir ela vai ser despedida?  

As interrogações são muitas, Que tal escrever um romance sobre isto?. Que acham vocês?

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Um agradecimento

Ela o conheceu num período para lá de triste e amargurado.  Fora forçada a deixar sua casa, seu canto, sua família, seu país. Não agüentaria ficar na sua cidade depois de tudo que lhe aconteceu. Efetivamente não foi a primeira, e nem seria a última, a sofrer uma grande desilusão, que abalou todos os seus alicerces. Seguiu magoada, triste, se agarrou a uma única, para ela, chance, de esquecer, de perdoar, de perdoar-se por tantos equívocos, tantas mentiras.  Queria se perdoar por ser tão imbecil, ela que adorava dizer que os outros é que o eram, entretanto ela sentiu na pele o que é ser imbecil, o que é acreditar num outro tão próximo, o que é deixar-se enganar com tudo acontecendo na sua cara, à sua frente.  Como bem diz o ditado: “corno é o último a saber”.
Sim, precisava ficar longe. Não se preocupou com todos lhe dizendo que devia ficar e enfrentar tudo de frente. É engraçado como as pessoas acham que podem resolver a vida do outro, parecem que  conhecem você  mais de que você mesmo, mas ela tinha, no momento, uma única certeza: devia se afastar, se ficasse ela não suportaria, a sua dor ia multiplicar-se. E lá se foi com as suas dores .
Bendita viagem, bendita cidade, bendito rio,bendito país, bendita faculdade de letras e bendita biblioteca da faculdade de direito, mais bendita ainda, a Sociedade de Geografia, o Arquivo Histórico do Ultramar, a Biblioteca Nacional, com eles dividiu dias e noites, uma solidão partilhada com estantes, livros, documentos e  muitos loucos, que iguais a ela, não pelo mesmo motivo, fizeram a opção do conhecimento.
É solitário, é sim, mas há dias de folgas desta solidão, há momentos de solidão partilhadas em outras plagas, ela partilhou muitos com o rio, o rio que a viu chorar tantas e tantas vezes, mas que lhe consolava de uma maneira incrível, lhe apaziguava a alma, e foi ali, diante dele, que ela viu nascer, pela primeira vez, depois de tantos anos, a esperança de esquecer o seu passado, como se isto fosse possível, de encontrar um novo motivo para ser feliz.
Ela, até então, não concebia felicidade sozinha, ela gostava de ter alguém ao seu lado, para partilhar, para criar metas, para alcançar objetivos, para criar os filhos e ver as suas vitórias, tudo aliado ao seu trabalho e à sua vontade de conhecer, de saber, todavia tudo isto lhe foi tirado, em questão de cinco minutos sua vida se transformou inteira, chegou mesmo a perder o respeito por si própria. Não fora capaz, sequer, de lutar, ficara sem forças, despedaçada, mas o rio lhe trouxe um alento. Um alento moreno, bigodudo, bonito, galanteador.
A partir daí sua vida realmente transformou-se, não que fosse uma meta encontrar alguém ou estar com alguém, mas estar com aquela pessoa era bom demais. Começou a despertar outra vez; como disse uma vez um seu amigo, ela começou a, novamente, “ficar viçosa”.  Adorava se arrumar para ouvir a pessoa lhe dizer que ela estava linda; gostava de andar de mãos dadas no calçadão a beira do rio, gostava de ver o orgulho do bigodudo ao andar com ela pela rua, a apresentá-la aos amigos como “minha namorada”, gostava de sentir o olhar voraz daquele homem quando ela estava chegando aos locais dos encontros marcados. Ah como era bom a expectativa do encontro; virou uma adolescente, tinha dúvidas iguais aos 15 anos, quando saia para encontrar algum novo namorado, na incerteza se ele estaria ou não no local.  Adorava ouvir dos amigos dele: “Fulano teve muita sorte”.
Sim, gostava de comer peixe em lugares recônditos, que somente eles, os da terra, conheciam; nada de lugares turísticos, nada de luxo, apenas lugares maravilhosos, de gente simples e de comida mais de que caseira. Ele lhe ensinou mesmo a comer peixe grelhado, cozido a portuguesa, carne de porco alentejana, açorda, mão de vaca, bacalhau a lagareiro com batatas ao murro, chanfrana,  frango no churrasco e tantas outras coisas.
A cada encontro uma novidade,um novo restaurante de bairro, a exemplo do Panças, um novo espaço para dançar; sim dançar, ela adorava e achara o parceiro ideal para isto, ele não só gostava de dançar como de vê-la dançar. Ficava extasiado quando tocava “La Luna e El Toro” e ela dançava sua dança “espanhola”, que nunca aprendeu, mas enganava bem; a dança espanhola, nela, era atávica. Aprendeu kizumba, alguns poucos passitos, mas não envergonhava ninguém e dançava com ele muito e eram felizes. Quando chegavam em algum baile  as pessoas diziam: Pronto chegou o casal mais bonito da festa”.
Sim, assim ela viveu durante dois anos.  Teve algumas rusgas, sim teve, ele era ciumento, mas até isto ela gostava; se desacostumara de ser querida, gostada, desejada, e aquela demonstração de ciúme lhe deixava tremendamente orgulhosa. Era uma mulher desejada, querida, gostada. Aquele homem fazia questão de estar com ela e se dar para ela. Era uma conjugação perfeita dos verbos do amor, que sempre eram conjugados no presente e na primeira pessoa do plural, nós queremos, nós gostamos, nós vivemos, nós amamos.
Todavia, ela não podia estar todo o tempo fora do seu país, e numa destas idas para lá, numa época de São João, aconteceu o que para ela era quase impossível: ele se foi, sem aviso, sem choro e nem vela, foi-se: foi-se da mesma maneira que apareceu, nenhum rastro deixou, sequer lhe deu a chance de dizer o quanto ele foi importante na sua vida, o quanto ele modificou o seu querer, a sua forma de pensar, os seus sonhos. Diz-lhe agora, após sete anos da sua partida.
Obrigada Sr. bigodudo, por tudo.  Saiba que você foi mesmo muito, mas muito importante mesmo na vida desta mulher. Ela vai seguir lembrando de você com carinho, e, todas as vezes que ouvir um fado, vai lembrar do moreno da boca pequena, do bigode preto, e dos olhos mais negros e penetrantes que já viu.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Poemas do meu filho - Fabio Martinez Barbosa

DISSABORES
Sofri pelas dores dos ex amores
Por não ouvir conselhos tenores
Por agir por impulsos saltadores
Por não tentar por excesso de rubores
Por não atender os, as vezes, irremediáveis caminhos tentadores                  
Sofri, mas, o tempo curou!
Curou porque   extraordinário e sabidamente sábio ´tempo
Não por acaso rima com lento
Com tento, talento.
Faz um segundo parecer uma vida, faz a vida passar num só momento
Faz a dor do amor parecer mais que ferida
Faz novo amor  ser infinito, claro e bento.
É o tempo!
Borracha das dores
Pintor da vida em cores
Palestrante das verdades com, ou sem, dissabores!

ESPERANÇA

Queria, permanentemente, voar no céu do meu pensar
Flutuar nas nuvens do meu doce delirar
Sem jamais ter que parar para observar
As tristezas da realidade que teimam  em me rodear

Queria só mãe, mar, sol, praia e luar
Só parar pra pensar quando o cd de Bob  acabar
E fazer amor sem me preocupar
Com as consequências de dar amor, para quem só sabe tirar

Queria não me preocupar com aquela conta para pagar
Ter dinheiro, não para ser rico, mas, apenas pra não me estressar
Viver com humilde conforto para não afrontar
Pois o certo mesmo é dividir para somar

O que penso não sei se  é sonho
Prefiro dizer que é meta
Sonho pode ser apenas aquele filme noturno
Meta pode ter conquistada

Portanto, eu não queria; eu quero, faço e espero tudo um dia acontecer