quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Tráfico de mulheres

Hoje, dia 25 de fevereiro de 2013, assisti um documentário na televisão francesa a respeito do tráfico humano.  Os repórteres estiveram na Nigéria e demonstraram como as mulheres são aliciadas e levadas para a França, onde se concentram, principalmente, em Lyon.
As moças são levadas para a França pelas madames, nome que dão às cafetinas que não só lhes aliciam, como, também, na sua grande maioria as exploram. Fiquei horrorizada, embora tudo isto seja quase, atualmente, uma normalidade, pois acontece em relação à totalidade dos países africanos e da América Latina e do Sul.
Quando, no ano de 2010, estive em Moçambique, por incrível que pareça, tive destas intuições que você tem só em olhar para as pessoas. Viajava num voo da TAP que saiu do aeroporto da Portela em Lisboa para Moçambique, muitas horas de voo. Logo no embarque notei a presença de dois homens, ambos espanhóis. Um magro, baixo, com uma aparência horrorosa, e, como estava bem na minha frente, com um cheiro de cigarro insuportável. O outro, um homem bem grande, meio gordo, mas também com uma aparência muito estranha. Por incrível que pareça, ao chegar em Moçambique, apesar de ter perdido os homens de vista, em razão do desembarque da minha bagagem, qual não foi a minha surpresa ao chegar ao hotel e encontrar os dois hospedados no mesmo local.
Minhas suspeitas em relação àqueles dois homens se confirmaram, eles passaram ali no hotel os quinze dias, e nesses dias tive a minha intuição confirmada, pois eles estavam ali por uma causa nada louvável, percebi eles estavam ali  para aliciar jovens moçambicanas para leva-las para Espanha, ou para qualquer outro  sitio na Europa.
Comecei a prestar muita atenção a tudo o que acontecia em relação àqueles homens, e notei que muitas jovens eram trazidas ao hotel, jovens meninas, muito jovens mesmo, talvez não menores, porque isto tornaria mais complicada as suas saídas do país, mas, com certeza, a grande maioria com 18 anos.  As meninas chegavam sempre acompanhadas de uma moça, bem ocidentalizada nas vestes, nos cabelos, na maneira de estar, dir-se-ia que ela era a ligação entre aqueles homens e aquelas meninas que seriam levadas para fora do país.
Algumas jovens pareciam, efetivamente, muito felizes. Claro, elas estavam enganadas a respeito do futuro que as esperavam na Europa. Saem elas cheias de sonhos, que acabarão logo na chegada, quando os seus passaportes serão tomados pelos seus “proprietários”, até que elas paguem todas as despesas com a viagem, hospedagem, etc, isto quando elas conseguem, caso contrário ficaraõ podres: envelhecerão sem amadurecer.
Fiquei atônita, inclusive, com a cumplicidade do povo do hotel, quero dizer: os funcionários, que sabem perfeitamente de tudo o que ali acontece, e não fazem nada, e nem duvido que alguns até arrumem estas meninas mediante algum dinheiro. Interessante é que, penso eu, depois de acertado alguns pontos, as moças já ficavam dentro do hotel, naturalmente uma maneira de impressioná-las, afinal tem garotas que saem de suas aldeias fora de Maputo diretamente para um hotel com bons quartos com banheiro privativo e outras mordomias, tipo água quente, ar condicionado, café da manhã, que apesar de não ser dos melhores, e não era mesmo, mas, com certeza, para elas, um lugar invejável. O mais engraçado de tudo é que elas se mostravam muito à vontade e pareciam, até, demonstrar uma certa superioridade.
Passados uns quinze dias os homens sumiram e com eles as jovens. Nada mais claro portanto, e todas as minhas suspeitas foram confirmadissímas.
Bom, mas não sei o que aconteceu com estas moças, mas presenciei, ainda em Moçambique, muitas outras coisas; vi inúmeras jovens entrando no hotel para dormir com hóspedes, infelizmente tive de ficar no hotel, não tinha muita saída, e vi mesmo, ninguém me contou, jovens e ai sim, menores, em ativo comércio sexual, com toda a conivência dos funcionários do hotel, que recebiam dinheiro, inclusive, para deixar que estas jovens entrassem nos quartos dos hóspedes.  As meninas chegavam sozinhas e, discretamente, como se hóspedes fossem, dirigiam-se aos quartos onde os parceiros já estavam a esperar.  As vezes mais de um em um mesmo quarto, aliás os homens da África do Sul fazem isto regularmente, o que me foi dito pelo taxista que tinha um ponto da frente do hotel e que, muitas vezes, segundo ele mesmo, ia buscar estas jovens.
Também soube que nos bordéis da baixa de Maputo, especialmente na Rua Araújo, infelizmente onde está localizado um parte do Arquivo Histórico de Moçambique, há muitos bares e discotecas suspeitas nessa rua, andei por ela para conhecer tudo e vi, em pleno dia, tais bares funcionarem e muitas meninas por ali. Aliás, houve um episódio muito interessante em relação a esta rua, pois eu, inocentemente, logo no dia que cheguei em Maputo, deixei as malas no hotel, descansei um pouco e me pus em marcha para procurar a tal rua do Arquivo. A rua tem um novo nome, mas eu que, marinheira de primeira viagem em local desconhecido, sem saber olhar direito o mapa que me deram no hotel, ao invés de descer a rua direto, fiz uma volta danada e parei em uma das mais movimentadas avenidas e tive de pedir ajuda, o que fiz exatamente em frente a uma loja em reforma, onde estavam um rapaz na porta, quase na rua, e uma senhora ainda por sair. Me dirigi ao rapaz e perguntei-lhe onde era a Rua Araújo. Vi o rosto dele meio surpreso e ele contendo um riso disse-me que eu deveria continuar por aquela rua e, mais adiante, virar à esquerda, descer até o jardim e, quando chegasse no edifício mais alto de Maputo, que agora esqueci como eles chama e depois do jardim dobrasse para a direita, etc. etc. Enquanto ele estava a explicar a senhora saiu da loja, fechou a porta e o rapaz disse-lhe: Ela está procurando a Rua Araújo. Vi a mesma reação no rosto da senhora, ela conteve o riso e virou-se para mim perguntando: O que a senhora quer na Rua Araújo? A pergunta não me surpreendeu porque quem é colonizado por português parece que herda a curiosidade nata deles, e querem saber tudo, me acostumei a isto de tanto responder as perguntas de tantos, principalmente os taxistas que me transportavam em Lisboa, que queriam saber tudo: O que eu estava a fazer em Lisboa? Onde eu trabalhava? De onde vinha? Uns mais ousados perguntavam se a menina vivia sozinha, dentre outras coisas. Acostumada, pois, não estranhei a pergunta, estranhei sim, o tom dela, mas respondi calmamente que eu queria ir ao Arquivo Histórico de Moçambique e já complementei logo, sou brasileira, faço o doutorado na Universidade de Lisboa e venho fazer uma pesquisa e o arquivo fica nesta rua. Alivio imediato na cara dos dois, medido exatamente pela carona que me ofereceram até a baixa de Maputo, onde me deixaram muito próximo à rua, não antes de me explicarem que aquela rua era não muito aconselhável para uma senhora andar, mui principalmente ao anoitecer e me explicaram que aquela era uma rua famosa, há muito tempo, exatamente por ser um ponto de prostituição. Fazer o que não é? Uma parte importante do arquivo estava ali e eu não podia deixar de lá ir, como fui inúmeras vezes.    
Bom, caso pessoal à parte e para quebrar mesmo um pouco da brutalidade deste texto, sabemos perfeitamente que o que acontece em Maputo com as garotas que se prostituem nos hotéis da cidade com a conivência de tantos, que  as exploram da pior maneira possível não acontece somente lá, temos exemplos bem próximos  nas ruas do Recife, principalmente na Boa Viagem, bem como em Salvador e em tantos outros Estados do Brasil onde isto acontece cotidianamente e não só isto, também  acontece  o tráfico de mulheres da mesma maneira que acontece nos países africanos, aliás,  a novela  Salve Jorge bem explora  esta atividade ilícita, tanto que nas zonas de fronteiras do Brasil  o policiamento está sendo reforçado exatamente para proibir o tráfico de pessoas, ai incluindo-se o tráfico para fornecimento de mão de obra escrava.
Mas voltando ao documentário sobre o tráfico de mulheres entre Nigéria e França, fiquei estupefata com tudo o que os repórteres conseguiam descobrir e mostrar. Ora se os repórteres mostram isto, se conseguem descobrir tudo num jornalismo investigativo, porque as autoridades responsáveis não tomam qualquer atitude? Por que não se faz nada, e a máfia nigeriana continua agindo naquele país e não só ali, porque eles mostraram, também, como esta máfia nigeriana uniu-se à máfia italiana, à qual pagam uma percentagem para continuar esta exploração, que é praticada sem qualquer subterfúgio, porque as mulheres trabalham, algumas delas claro, em “furgões” adaptados para este ramo de negócio. É inacreditável: os furgões ficam estacionados em plena via pública.
Na Nigéria, quando as meninas são “compradas”, segundo a reportagem, aliás mostrada mesmo ao vivo e a cores, elas passam por uma secção religiosa, onde prometem ao “djudju”, em um ritual vudu, que obedecerão ao seu patrão, que pagarão a dívida que tem(terão) para com eles, que a reportagem apurou orça em 50.000 euros, sob pena de morrerem ou receberem os castigos das divindades. Ou seja, a religião de mãos dadas com o crime.
Não bastasse essa dívida, contraída somente pelo fato das meninas serem levadas para a França, se bem entendi, elas ainda pagam pela comida, pela casa onde moram, por tudo enfim às suas patroas, ou seja, a dívida só cresce e não há possibilidade delas fazerem o que mais sonharam e queriam, que era ajudar a família na Nigéria, que não sabem onde elas estão. Por outro lado, as nigerianas não podem sair da linha em França, porque as suas famílias na Nigéria sofrerão as consequências de sua desobediência.
É uma tristeza saber que o tráfico de pessoas continua impune, apesar das inúmeras medidas tomadas por inúmeras ONGS, pela Organização das Nações Unidas, e por tantas outros organizações internacionais. O fato é eu o tráfico continua e as pessoas que com ele enriquecem continuam impunes, ricas, milionárias até, vivendo sem serem incomodadas porque contam com a impunidade e com a colaboração de agentes do Estado, que deveriam coibir tais atos, mas que se corrompem e ajudam a fomentá-lo cada dia mais.
O que posso fazer é denunciar, fazer com que tantas pessoas que possam ter conhecimento disto bradem, escrevam, denunciem. É o mínimo, mas alguém que ler isto, pode ter bem próximo a si um desses casos e pode ajudar denunciando. 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Certeza de não ter certezas


Estou na rede, olho as cores da casa; verde, branco que predomina. O carro preto faz parte, agora, da paisagem, tanto que os pássaros resolveram que ele é o sanitário público deles. Os portões marrons contrastam com o branco do muro, o que realça o tom do marrom.
O coqueiro está cheio de cocos que, possivelmente, não servirão para nada. Ele, triste na minha ausência, pegou um fungo, vai levar tempo para se recuperar. A goiabeira cansou de produzir, ninguém valorizou os seus frutos e ela, vingativa, resolveu ficar “estéril”, pelos menos, temporariamente.
A palmeira não enche, mas tenho esperanças, vejo mais quatro folhas em gestação. Hortelã, manjericão, alecrim, tudo muito verdinho. As onze horas de diversas tonalidades: brancas rosas, amarelas lindas estão alegres com o sol e demonstram esta alegria com o seu desabrochar. As duas amigas com a sua cor inigualável. As rosas do deserto estão despencando, são efêmeras, a primeira das sete flores caiu, tenho de esperar, e espero que tenha mais floradas.
Olho ansiosa as mudas que fiz, trouxe as sementes de Portugal: tomilho, cebolinha, anis, o último está de vento em popa, a gente já vê as folhinhas saindo, os outros tomam o próprio rumo, é maravilhoso.
Ainda da rede, visualizo o carro, a varanda, a lateral esquerda da casa; é lindo. Fico pensando o que vou fazer se tiver de vender esta casa e for embora daqui.
Estou ouvindo Orlando Dias “espera um pouco mais, a vida continua” e tantas outras que já tocaram. Num paradoxo completo, tento ler “Ecce Homo” um resumo de Nietzsche por ele mesmo; mas como sou louca isto pode ser uma grande combinação; se um dia conseguir entender o segundo, mas vou tentando, pois quem sabe, bebendo muito vinho chegue lá; afinal quero crer, contrariamente a ele, Nietzsche[1], que “in vino veritas”. Não quero achar, como ele, que para “crer que o vinho dá alegria seria preciso ser cristão, isto é, crer o que para mim constitui uma obscuridade” (p.39). Quero crer, e muito em tudo, nesta beleza que a natureza pode oferecer, pois está um dia lindo: o sol brilha muito, onde ele recai faz com que as cores fiquem mais vivas, mais brilhantes. O céu está com um azul muito intenso, não há nuvens, fico a vislumbra-lo pelo intervalo entre a minha casa e a construção do meu vizinho, além disto, brega ou não, gosto de ouvir as músicas que estão a tocar: agora é a “minha serenata”. Continuo na rede olhando a minha vida passar com os seus tons: verde, branco, preto, lilás, grená, rosa. 
Coloco outro disco, ouço agora Pablo Alborán, vou direito para a música que ele canta com Carminho: “PERDONAME” -  “ Se alguna vez me preguntas o por que, no sabre decirte lá razón, no fuistes tu, porisso y mas, perdoname”. É, inacreditavelmente, linda e vou escrevendo e continuando a entender, ou melhor, tentar entender a loucura, ou a sanidade, de Nietzsche, confundindo-me com a minha. Já não tenho certeza de que sou  “não louca”.
Volto a ouvir Orlando Dias “Tu hás de sempre chorar a minha partida[...] tu hás de sentir em outros braços o calor dos meus braços[...] tu hás de pensar em mim a todo  momento, meu nome jamais sairá do teu pensamento”.
Tento voltar ao livro, me concentrar na leitura, é difícil, mas chego a um trecho que diz: “Ninguém é livre de viver em qualquer parte; e quem tem de resolver grandes tarefas, que exigem toda a sua força, tem mesmo aqui uma escolha muito limitada” (p.41) Ele se refere ao espaço e a relação deste com o metabolismo da pessoa; a influência do primeiro em relação ao segundo. Dou um salto da leitura, porque associo o lugar ao “amor” e ouço “a minha vida é um tormento, eu não te esqueço amor um só momento”. Sim, o espaço e a ausência realmente bolem com o meu metabolismo; ambos podem fazer muito mal ao ser humano, e nem dá para administrar a tarefa, sequer, alcançá-la.
Não paro por aí, continuo a associar Nietzsche, pretensiosamente, como é óbvio, à minha própria vida, à minha própria “história”, ao meu momento, e aí deparo-me com o seguinte desabafo: “O grande poeta cria a partir da sua realidade, até ao ponto de, subsequentemente, já não suportar a sua obra” (pg.46) e, logo adiante, falando ele das peças de Shakespeare: “como deve ter sofrido um homem para assim ter necessidade de ser bobo!” Compreender-se-á  o  Hamlet? Não é a dúvida, mas a certeza que enlouquece”. (p 46).
Paro, fico pensando no impacto da última frase. Sim, talvez, em alguns momentos, seja melhor a dúvida, a certeza realmente enlouquece. O saber irreversível da certeza de algo, principalmente quando se fala em amor, é muito cruel e pode endoidecer.
E quando se tem a certeza de que não entendeu nada, de que tudo gerou apenas questionamentos e nada mais que isto. O que fazer? O que o homem pode fazer diante das certezas que lhe são, cruelmente, apontadas, apresentadas aos seus olhos, aos seus ouvidos, ao seu próprio corpo. Nada! Quedar-se-á inerte? Reagirá? O que fará este pobre mortal?  Vai procurar amoldar-se a outro espaço, e se, como Nietzsche, for fraco de saúde? Morrerá com a certeza, ou com a dúvida de que tudo foi uma certeza?  Aconteceu, não aconteceu? Foi mesmo assim? Tem solução?
Fico por aqui, sem certeza alguma, nem de que fiz certo, nem de que fiz errado antes e nem agora, só sei que, mesmo na incerteza, é preciso decidir, porque sempre estamos diante de decisões, elas são imperativas, e é através delas que algumas das nossas “certezas” se vão para dar lugar a outras, que felizmente, não são “perenes”.  

Dezembro de 2012.
1] NIETZSCHE, F.   Ecce Homo, Como se vem a ser o que se é, Lisboa, Edições 70, 2010. (trad. Artur Morão)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Estou envergonhada!!!!

Um dia, aqui neste mesmo espaço,  por força da copa do mundo, e pelos fatos narrados naquele texto, disse que “era brasileira com muito orgulho e muito amor”. Passados alguns anos, já não diria, em momento algum, esta mesma frase, porque o que tenho agora é mesmo muita vergonha de ser cidadã brasileira, e lhes digo  o motivo desta revolta:
Vi o ex-presidente da Câmara dos Deputados, em alto e bom som e para o Brasil, pois dava entrevista às emissoras de televisão, que não cumpriria a decisão do Superior Tribunal Federal, que condenou ex-deputados, ex-ministros, deputados em exercício, suplentes próximo de assumir o mandato, em relação à perda do mandato como consequência das suas respectivas condenações pelos crimes praticados durante o exercício daquele, Art. 15, IV da Constituição Federal, combinado com o 55, IV e VI, da mesma Constituição, observado-se, ainda, o Art. 92 do Código Penal. Fiquei atônita, pasma com o pronunciamento e com a arrogância do Senhor Marcos Maia e com a sua justificativa para tal atitude; é que, segundo ele, o Supremo invadia a competência privativa da Câmara, porquanto somente esta é que, em processo interno, podia decidir sobre a perda do mandato de algum de seus membros.
Certamente o Senhor Presidente da Câmara deixou que as emoções obilubilassem a sua racionalidade, pois, se ao menos tivesse raciocinado um pouco não teria dado tão insensato depoimento. O Senhor Presidente ao pronunciar as palavras, em um segundo, demonstrou: prepotência, ignorância jurídica, falta de cidadania, desconhecimento das leis do país, que, por acaso, deveria conhecer muito bem, porque elas são feitas exatamente na câmara legislativa que ele comandou até janeiro de 2012.
Aliás, a respeito deste processo, Ação Penal 470 – Mensalão, Já tinha estado envergonhada quando, ao assistir a última sessão do julgamento da dita Ação Penal pela TV Justiça, presenciei a atitude de um dos senhores ministros(Marco Aurelio) reagindo à fala do Presidente do Supremo Tribunal Federal e relator do Processo(Joaquim Barbosa), que agradecia publicamente a ajuda dos seus assessores ao longo do tempo em que o processo esteve sob a sua responsabilidade.  Fiquei estupefacta diante da reação do tal Ministro, que demonstrou toda a sua falta de humildade, de educação, e a  da sua empáfia não condizente com o exercício de tão valoroso cargo.  O homem se retirou do plenário, dizendo, em alto e bom som, que aquilo nunca tinha acontecido antes e que ele não participaria daquilo, que se o Presidente quisesse agradecer aos seus assessores o fizesse em particular e não numa sessão do plenário. Sem dúvida alguma, o inusitado gesto do Presidente pode nunca ter acontecido mesmo, porque nem todos tem a coragem de admitir que são ajudados por assessores em todos os processos em que funcionam. E ai deles se não fosse assim!  Não duvido, em momento algum, da sabedoria, do conhecimento, da capacidade intelectual de cada um dos membros dos membros do colegiado, mas eles sozinhos não podem dar conta de tantos e tantos processos. Eles precisam ser auxiliados nas pesquisas da doutrina, da jurisprudência, do próprio andamento do processo, das peças mais importantes, enfim, eles precisam de um apoio, e isto não vai denegrir nem diminuir a capacidade de nenhum deles perante o provo brasileiro, nem  mesmo daquela parte da população que tem formação jurídica e que tem conhecimento de como as coisas realmente funcionam .
Ao presenciar a prepotência do Senhor Ministro se  retirando da sessão voltei no tempo e lembrei-me de quando ele próprio tomou posse como Presidente do Tribunal declarou que, em relação à questão dos subsídios da magistratura, isto era somente uma questão de “canetada”. O tempo passou e os juízes até hoje estão esperando pela canetada que não veio, talvez por força de falta de tinta na caneta presidencial.
É mais a questão do Ministro, embora me tenha envergonhado, está muito aquém de que estaria por vim nos dias seguintes. A eleição dos presidentes do Senado e da Câmara Federal.
Fiquei pasma diante do resultado, que, diga-se de passagem, é alcançado mediante votação secreta nas duas casas. Pois não é que os senhores deputados e senadores elegeram para presidir as suas respectivas casas, dois homens com ações judiciais!  O Sr. Renan Calheiros para o Senado, o mesmo que teve de, anos atrás, renunciar ao mandato e á própria presidência da casa, porque restou comprovado o seu envolvimento com favorecimentos ilegais, recebimento de “presentes” da construtora Gautama, que pagava até mesmo contas de sua “amante”, emissão de notas frias, estando o Sr. Henrique Eduardo Alves, homem que fez questão no discurso de posse de demonstrar o seu conhecimento pratico do que pode acontecer com pessoas que entram na vida pública com intuitos diversos do que aquele de servir ao povo que o elegeu e que espera  pela sua ação, também denunciado em ação por improbidade administrativa. O homem tem mais de 30 anos   que está  na Câmara dos Deputados e os nordestinos, que por acaso os dois representam,, Rio Grande do Norte e Alagoas, de onde vieram os dois políticos em questão, continuam morrendo à fome, sofrendo com a seca, com a falta de estruturas, morando em  locais insalubres, e  fazendo crescer a população pobre  e sem oportunidades, fomentada  pelos diversos  programas  do Governo, que incentivam o “amor procriador”, a preguiça, o desemprego, pois  quando se recebe vantagem sem trabalhar, evidentemente que não se procura trabalho, quanto pior, quando um elimina o outro.
Bem, antes disto tudo, outro fato  também me deixou  descrente e envergonhadíssima.  O Caso da Operação Monte Carlo, acho que é este o nome,  que  teve o Sr. Carlos Cachoeira como principal acusado e que terminou pela cassação do mandato do Senador Demóstenes  Torres, lá do Goiás. Este então me deixou completamente arrepiada e de cabelos em pé. Pois não é que o homem pertencia ao Ministério Público, um guardião da lei e dos interesses  da sociedade, ele que, pela formação jurídica, sabia de todos as consequências dos seus atos, dos resultados dos seus envolvimentos escusos, da maneira  fácil de “arrecadar dinheiro”.  Olhe, isto parece mesmo brincadeira! Até gostaria que fosse, sinceramente.
Mas não ficou por aí não, tem a Rose, então a senhora que era a responsável pelo escritório da presidência da República em São Paulo, (até hoje não entendi o motivo da existência deste anexo presidencial), e que, segundo as más línguas, uma “segunda dama intramuros e aviões”, está envolvida em situações para lá de escusas, inclusive de “lavagem de dinheiro”, que, aliás, não se sabe de onde veio. Os jornais  informaram que dita senhora  levou perto de  quinhentos mil dólares, ou quantia equivalente, para a Europa onde está depositada valendo-se, inclusive, de um passaporte diplomático, veja lá se pode uma coisa destas. Valei-me Deus,  que pais é este!
Bom, mas não se fica só nisto, pois estou tentando entender até hoje como o ex-presidente da República, tão pobre e nordestino como eu na sua origem, pode aparecer em listas de “milionários” em revistas no exterior.  Acho que estudei muito para nada, talvez tivesse sido melhor ser metalúrgico e perder o dedo e parar de trabalhar para sempre e virar representante  do povo: pobres e oprimidos que, enganados com as falsas promessas e com os programas cala a boca do governo, continuam acreditando nos que ora governam este país.
Pois é, não faço parte do governo, não sou político de carreira, apenas sou uma brasileira que estudou em colégio público(os três últimos anos do ensino fundamental), passou num vestibular sem sistema de quotas, sem Enem, sem qualquer programa de nada; conseguiu, a duras penas,  formar em Direito,  que penou durante longos anos  como advogada, e que foi  aprovada em  concursos públicos, optando por um deles e cumprindo, por força disto, orgulhosa e responsavelmente o seu mister, distribuindo justiça e tentando, através desta distribuição, igualar os desiguais, e se vê agora  com salário congelado, vendo o desrespeito ao judiciário,  ao funcionalismo público  e às instituições deste país, resultando em uma  denúncia, pasmem vocês,  na ONU contra o Brasil. Realmente, estou arrasada.
Estou sim, envergonhada mesmo, mas não tenho muito a fazer, a não ser demonstrar, para muito poucos, a minha insatisfação e ficar esperando que o “metrô” de Salvador, que  já sugou muito dos impostos pagos pelos brasileiros, sai da toca, venha mesmo para a superfície, que é onde deveria estar há quase dez anos atrás. 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Tudo por um bilhete de identidade


E lá se foi ela. Estava feliz, afinal ia passar o Natal na casa de conhecidos e em uma cidade que gostava de rever. Barcelona!

Toma o avião cheia de energia. Cidadã européia e já na Europa, fascinada pelo fato de não ter de ficar na fila da emigração, nem para sair de onde estava, e nem para chegar aonde ia.

Chega a Barcelona no horário previsto e lá está a sua anfitriã. Uma nacional do seu país de origem, que pensa que mudou a essência por ter se casado com um catalão. Sua aparência efetivamente mudou; os cabelos já não são os mesmos, apesar de piores na aparência, tem corte moderno e alongamento. O rosto está tratado, afinal na Europa pode-se ter acesso, facilmente, aos grandes produtos reformadores da “cara”, acreditem se quiserem: Lancome, Ester Lauder, Clarins, La Mer (o mais caro de todos) quase uma operação plástica, e tantos outros. A Bolsa é a da Dona Karan, aliás, se fez tudo para mostrar à visitante esta marca.

Cumprimentos e a visitante estranha não ver o marido da visitada. Ele não estava no desembarque e as duas pegam um “ônibus”. Embora isto seja uma coisa normal na Europa, do que não se tem de ter vergonha mesmo, pensou que iria ser transportada de carro, etc. Etc., enfim, o que aconteceria se o caso fosse contrário, fosse ela a visitada e eles os visitantes. Também não entendia porque não podia pegar um taxi. Estava de mala pesada e isto seria o mínimo que teria feito, até mesmo se estivesse sozinha.

O fato é que entraram no ônibus; ela muito sem jeito, porque não está acostumada a andar de malas em ônibus. O certo é que seguiram as duas conversando sobre coisas e pessoas “nacionais”, coisas sérias em alguns momentos, banalidades em outros, aliás, só poderia ser assim mesmo, porque a diferença cultural não permitiria que, mesmo as coisas sérias, que envolviam apenas dramas familiares e possíveis soluções legais, passasse dali. A certa altura a visitada diz que iam sair naquela parada. Ok! Puxando a mala, com a dificuldade de estar com um casaco de frio imenso, o que sempre lhe tolhia os movimentos, por mais que se esforce não vai se habituar a estas vestes, desceu do autocarro numa praça. Não entendeu nada, mas seguia a anfitriã, que parou em frente à loja do El Corte Inglês dizendo estar esperando alguém. Mais uma vez pensou a visitante, “o marido”, vem nos pegar e me livrar desta incomoda mala. Qual o que? Chegaram duas mulheres, uma irmã da anfitriã e uma amiga. O pior, todas entraram na loja, inclusive, claro, ela, puxando a porra da mala.

A anfitriã queria comprar uma calça de marca. Aquelas jeans que custam de 250€ para lá. Exigente, olhava muitas e não se definiu por nenhuma, no que se passaram intermináveis duas ou 3 horas. Não se comprou nada na loja. À altura já eram cinco ou seis da tarde, quando saíram loja e foram andar pela rambla: pense aí! Passear pela La Rambla puxando uma mala! Todavia, o que fazer? Nada: acompanhar aquelas três e pronto, de qualquer maneira o sacrifício valia a pena, estava, novamente, em Barcelona, na La Rambla, e tentava se recordar da primeira visita que fez à cidade, também quando estava muito feliz ao lado de quem queria e realizando sonhos, saindo do metro na Praça da Catalunya e alcançando a La Rambla.

Andaram pela La Rambla a olhar lojas, a fome apertando. Passaram por muitos e muitos restaurantes, mas foram parar, achava ela, no pior deles, mas uma bar-restaurante que estava na moda, servia uns tapas diferentes, uma decoração para lá de exótica, enfim, um bar de Barcelona. Beberam cerveja, aliás, “canas” ou “finos”, sabe lá ela, sabe é que bebeu muitas. Comeu algumas coisas que elas pediam, e que na verdade, não faziam bem ao seu paladar, mas à altura estava com fome e em minoria.

Começou a pensar se teria sido uma boa opção ter ido passar o natal em Barcelona. Começava a duvidar e cada vez mais dava Graças a Deus de, na última hora, ter mudado a passagem para antes do dia 31, pois tinha comprado o bilhete para retorno no dia cinco, mas teve um estalo dias antes da viagem e modificou a data da volta.

Uma das mulheres que estava com a visitante era uma espanhola. Uma senhora, mas com muita energia. A outra era irmã da anfitriã e andavam sempre as turras.

Um telefonema e a visitada diz que o marido está chegando. Novamente a mala é puxada rambla a fora. Chega-se, de novo, ao ponto de partida. A cidade ferve, hora de ponta, não ha lugar para estacionar, o homem para distante e começa a acenar. As duas despendem-se das outras duas e correm em direção ao carro, tudo é feito na pressa, parece que estão fugindo da policia ou coisa parecida. O homem corre a abrir o bagageiro para colocar a mala. Entram no carro e seguem. Para onde?

As ruas passam, avenidas bonitas, edifícios chiques, ruas largas, ela olha tudo e começa a ver que estão se afastando do centro da cidade. Onde é que eles moram? Estrada! Sim, pegaram uma estrada mesmo, ou seja; não moravam eles no centro de Barcelona. E lá vão os três. Depois de muito tempo, ao menos uma hora, começa ela a ver, de novo, indícios de uma cidade. Ruas, lojas, frio da porra, sobe-se uma ladeirinha e o carro para. Pronto, chegamos.

A rua tranqüila, tudo quieto e silencioso. Junto ao prédio, ou melhor, no fundo dele, uma estação de trem. Pensou logo ela: to fudida, não vou dormir, mas estava na Espanha, dizia para si mesmo, e tudo valia a pena, inclusive porque ia tirar o seu bilhete de identidade espanhol.

Entraram no prédio e chegam ao último andar. Um bom apartamento a esperava, bom mesmo, mas normal como outro qualquer. Deixam as malas e voltam à rua. Ele leva as “chicas” para um bar, onde comem várias tapas. Que tapas! Ele sabe comer e conhece tudo. Comeu de tudo, pão com tomate, pimentos, jamón, muitos outros tipos de tapas. Beberam vinho e foram embora. Pensava ela que ia para casa, mas ele para o carro em um restaurante e vão jantar mesmo. Não se lembra o que comeu, porque já estava mesmo enfastiada de tanto comer tapas. A anfitriã e ele, entretanto, se fartaram, comeram bem direitinho.

Vai dormir, estava cansada.

Dia seguinte: A anfitriã e o anfitrião vão trabalhar. Ela fica em casa, para seu desespero, trancada. Eles saíram e deixaram-na trancada. Ela, que felizmente tinha levado livros, estuda. Lá pelas duas, três da tarde, eles chegam e fazem um almoço rápido. Salada, carne passada rapidamente pela frigideira e já esta, como ela aprendeu em bom espanhol a dizer. Comem, descansam pouco, pois a anfitriã tinha de voltar á peluqueria, pois estava cheia de trabalho, afinal era quase véspera do natal. Ele vai trabalhar de novo e ela, mais uma vez, trancada em casa. O que será que está acontecendo? Pensava ela. Por que eles me trancam em casa?

Mais tarde retornam e vão para a rua. Um frio de lascar. Tudo iluminado e muitas pessoas entrando e saindo de lojas, velhos, meninos, jovens, todos encapotados, mas na rua. Ela sempre acha engraçado este modo de vida europeu. Todo mundo entocado o dia todo, mas à noite, todos vão para a rua. Ali, naquele recanto da Catalunha, não era diferente, ainda mais em véspera do natal. Todas as lojas conhecidas estão ali: Maximo Dutti, Zara, Mango, Hits, e muitas outras.

Rodaram um pouco pelas ruas e depois foram para um restaurante e comeram bem.

Casa. Dormida e no outro dia já era dia vinte e quatro, portanto dia de preparativos natalinos. Havia de ser feita uma salada de frutas e mais algumas outras coisas. Pela manha os dois saíram: ela fica em casa, novamente, trancada. Remédio: limpar a casa. Fez cama do casal, limpou o quarto, arrumou as roupas jogadas no chão e na cadeira, lavou o banheiro, limpou a cozinha, tirou pó dos móveis. Começou a cortar as frutas para a salada de frutas e os legumes para a salada fria. À noite viriam pessoas passar o natal. A irmã, a mãe, amigos deles, enfim, ia ser uma festa de natal como todas.

Chegaram e todos surpresos com a casa limpa, tudo arrumado. Ele pergunta se ela é que tinha feito tudo, ela responde que sim e pede a ele que, se ainda desse tempo, que a levasse na rua, porque ela não sabia que aquelas pessoas viriam e queria comprar umas lembranças. Ele fez isto e saiu com ela, que rapidamente “despachou-se”, este é o mais feio termo que já ouviu para designar o término de uma ação.

Voltam a casa e já estão quase todos. Ele parece feliz, ela nem tanto. Há muita comida e bebida. A banana e a maça da salada de frutas escureceram: uma merda!Mas que jeito, todo mundo fala do que deveria ser feito, mas já esta e o jeito é comer assim mesmo.

Música brasileira, muita, e todo mundo dança, canta, é mesmo uma festa, e como todas as festas em que alguns membros de família se reúnem há problemas, e esta não seria a exceção, aliás, com aqueles membros que estavam presentes na casa da anfitriã, inclusive ela própria, a exceção seria a “paz”.

Enfim, muito álcool e meia noite! Agora era o dia do aniversário da anfitriã. Recebe parabéns e um presente do “marido”. O que seria? Era um presente grande e muito bem embrulhado. Ela abre e exclama: “Uma bolsa Dona Karan”. Os olhos brilhavam, faiscavam até, ela era poderosa, já estava com duas bolsas Dona Karan. Ganha outros presentes, mas a bolsa da Dona Karan era mesmo o supra-sumo e, de longe, o melhor, os outros já nem tinham importância, dispensáveis até. Ele esta feliz porque ela gostou do presente. Alguns olhares invejosos, que não intimidaram a anfitriã, que foi buscar a outra Dona Karan para fazer comparações. As bolsas eram exatamente iguais no estilo, diferiam na cor, mas que importa, era uma Dona Karan.

Todos foram dormir meio borrachos. No dia seguinte, ela acorda cedo, mas não pode sair do quarto, eles estão dormindo e tem gente, inclusive, na sala. Fica ali, no seu confinamento, até ver movimentação na casa. Levanta, toma banho, ajuda na limpeza. O dia promete. Tomam o pequeno almoço maravilhoso, muita comida do dia anterior.

Não saem neste dia, ficam em casa a beber e comer e a receber gente. A música brasileira não para de tocar, pagode, arrocha que esta na moda. Ela está a divertir-se, bebe muito, o vinho é realmente bom, ele não tem pena quando a questão é comida e bebida, aliás, nem quando se trata de prenda para a amada, veja a “Dona Karan”. Vai passando tempo e pessoas vão chegando, afinal era o aniversário da dona da casa. Ela samba no seu jeito, chama atenção, os amigos a cumprimentem, um deles, bem mal cheiroso dá em cima dela, ela tira de letra, afasta-o delicadamente, afinal esta na casa dos outros, se na sua fosse...

Ha um cheiro esquisito no ar, parece de cigarro, mas tem um odor diferente do de cigarro. O que será? Alguns fumam na sala, são os filhos do anfitrião. Entende o que é, não diz nada, acha apenas que não está no lugar certo, mas é problema deles.

A noite vai se aprofundando e afundando as pessoas, que mais uma vez se embriagam e, por força do álcool começam discussões intermináveis, um bota fora de vida alheia que é constrangedor. A anfitriã, claro, sempre se achando com toda a razão, sem ter mesmo nenhuma. Ela se recolhe, realmente não estava bem, o estomago lhe doía, já estava toda inchada. Bebera muito vinho, mas muito mesmo e o efeito estava ali.

Quando acorda, no outro dia, a casa já está mais calma, era sábado ou domingo, não se lembra bem, e já havia muito mais coisa a fazer, pelo menos em termos de beber e comer. Acordam. Vão ao mercado. Que mercado! Encanta-se com a variedade de jamóns pendurados há uma secção imensa do mercado somente para eles. Chouriços, queijos, vinhos!

Voltam a casa, largam as coisas e vão até a casa do amigo do dia anterior. Mais vinho e mais jamón. O pata Negra é claro. Recebe uma rosa vermelha, convite para dançar. O homem se esfrega nela, ela não gosta e fica pedindo a Deus que eles se decidam a voltar para casa. Mainhã conversa particularmente com o homem, vai até o quarto dele. O quarto e sala é lindo e arrumado. Soube, depois, que o homem é gerente de um banco e namorava com a sobrinha da mainhã, uma outra nacional que lá estava.

Domingo. Vão a Barcelona, Porto Olímpico. Comer é a palavra de ordem. Eles gostam de marisco e anfitriã abusa do caro pede parrilada de marisco,(camarão e lagosta grelhados)ta, e tudo o mais, tudo tem um defeito sempre. A cara é de quem esta mesmo enfastiada com aquilo. Nada de errado com a comida, gênero puro, tipo ser conhecedora do assunto. Uma verdadeira graça, se não fosse ridículo. A visitante come pouco, não gosta de frutos do mar, mas não dispensa o pulpo e nem as lulas. Muito vinho para dentro. Comem muito. Ela fica a olhar para aquele homem, que é, decididamente, um homem bom e muito corajoso.

Voltam para casa. Já é dia 26 e ela vai embora 29. Dia 27 em casa trancada, dia 28 vai tirar a carteira e percebe o que ele diz ao agente. Ela faz o doutorat em Lisboa. Tudo resolvido, entretanto, a carteira só vai ficar pronta daqui a um mês. O endereço é dele e ela autoriza-o a pegar tal carteira.

Não há mais nada a fazer a não ser esperar o dia de embora e é o que acontece, com um pequeno detalhe: dentro de casa

Casa de meus avós na Galicia
Pois é, para ter direito a um bilhete de identidade espanhol e passar um natal com “seus nacionais”, teve de passar pelo “cárcere privado”, que até hoje não conseguiu entender.

Mesmo assim, a viagem valeu à pena, e, acreditem: ela voltou à Barcelona!