terça-feira, 25 de setembro de 2012

Lamparinas


Sim, a gente ia entrando na casinha, digo casinha porque esta especifica casa de minha avó Antonieta parecia uma casa de bonecas. Tinha, salvo engano, um quarto, uma sala comprida, um banheiro a cozinha e uma área.  Do lado esquerdo da sala, onde ficava o quarto e o banheiro, entre um e outro, havia um mínimo hall e ali, uma mesinha mínima com um pequeno nicho com santos e a “lamparina”, que, diuturnamente, permanecia acesa, como para iluminar aquele espaço e todos dentro daquela casa.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Dá para explicar?


Acorda pensando na sua vida; como se isto fosse uma grande novidade! Ela vive pensando na sua vida e na de tantos quantos a rodeiam. Reza, pede a Deus por todos, e, num gesto, leva à mão ao crucifixo que carrega no pescoço: é um crucifixo de ouro cravejado com pequenas pedras verdes(verdadeiras), que lhe foi dado de presente e, desde o dia em que o ganhou, e lá se vão anos, está ali no pescoço, só sai dele quando a sua dona vai fazer ultrassonografias ou outro qualquer exame, ou ainda quando vai para a acupuntura. É um companheiro e tanto, pois, mesmo com a beleza da peça, que é mesmo uma joia, a sua representação é o que mais vale, por isso mesmo o gesto de levar a mão ao pescoço e pedir a ajuda tão necessária.
Quem lhe deu esta joia, também lhe deu a pulseira de ouro que carrega no braço esquerdo junto ao relógio, que também, por incrível que possa parecer, é um dos muitos presentes que recebeu da mesma pessoa, O seu pensamento já não está mais nos outros, e sim nela, porque num gesto quase que automático passa uma perna na outra e sente a tornozeleira, uma correntinha de ouro com um trevo e uma figa, que, por mais estranho que possa parecer, também lhe foi dado pela mesma pessoa.
Sorri e passa a mão pelas orelhas, e nota que também ali a presença da pessoa se faz presente, está com um brinco de ouro com  pedras azuis, que também lhe foi dado pelo mesmo presenteador.
Pensa: Como alguém pode esquecer outra carregando em si tantas lembranças; quanto pior quando, algumas delas, a exemplo da tornozeleira, lhe foram oferecidas após, ela e o presenteador, estarem separados, e ela recebeu,  simplesmente, porque ele soube que a antiga fora perdida, que, por acaso, também lhe foi presenteada pela mesma pessoa.
Lágrimas escorrem pelo canto do olho. Sim, por que tudo tinha de acontecer? Para que uma pessoa que faz questão de estar tão presente causou uma tão grande ausência, um vazio enorme num peito aberto ao amor.
Que estranha maneira de se fazer presente é esta, quase se tatuando no corpo de outrem! Que estranha maneira é esta de alguém sofrer por outrem deixando que a sua presença se encrustre em si desta maneira.
Não tira nunca as coisas, parece que tem medo de perder este contato, de retirar uma tatuagem que lhe deixará marcas feias, que sempre lhe lembrarão do que estava tatuado ali, quanto pior, se as tatuagens eram perfeitas, coloridas e lindas, as marcas da sua retirada serão feias, vão parecer queimaduras na pele, vão mesmo é deixar marcas indeléveis perenizando uma ausência presente.
Tenta parar de pensar nisto, mas é impossível. Tenta lembrar-se da sua casa, e aí nota que isto não vai afastar o pensamento e nem a presença de quem quer esquecer.  A sua casa está tão cheia de lembranças quanto o seu próprio corpo.  Na sua sala a televisão que lhe traz o mundo para dentro dela lhe foi presenteada pela pessoa. O aparelho de som onde ouve as suas músicas preferidas, que lhe fazem sonhar, também lhe foi oferecido pela mesma pessoa. Os próprios discos, uma grande maioria deles, também são pequenos mimos, enormes nos seus efeitos, quando lhe levam a recordar momentos tão felizes, mas que se foram, embora fiquem ali perenizados por vontade de ambos, talvez inconscientemente por ele, Tony Bennet, Bossa Lounge, Al Jarrou, Emilio Santiago, Andrea Boticceli, Zeca Pagodinho, Djavan, Gloria Stefan, tantos, tantos outros, e tantas recordações.
Pois é, o som que toma conta do coração e da casa entra por todos os seus poros, ela se arrepia só de pensar nisto e de lembrar que, quando ouve as músicas, na sua grande maioria, quando está só, o faz  deitada numa rede que lhe foi trazida pela mesma pessoa, em alguma das muitas viagens que faz ao nordeste.  Todas as redes da casa. É incrível! Eela pensa: são mais de cinco, e todas, sem exceção, chegaram a casa através dele.
Desiste de lembrar-se de mais coisas, mas a sua casa não tem somente sala, e ela se lembra das taças de vinho, ali a hegemonia dele é mesmo gritante, tudo ali lhe foi trazido por ele, que também é quem, quando aparece, leva o conteúdo das taças, mas não é só isto que, na cozinha, acusa a sua presença que se impõe de todas as maneiras. Os pratos brancos que substituíram os que foram quebrados, pratos iguais aos que tinham enquanto juntos  e moravam na mesma casa. Não só os pratos, há também o abridor de garrafas, as facas grandes, o facão, os belos pratos de servir refeições. Dentro do freezer esta o bacalhau especial trazido do mercado municipal de São Paulo. Na despensa o palmito, ele sabe que ela gosta e faz estes mimos.
Quer não pensar, quer não fazer mais nenhuma associação da ausência presente que se impõe todos os dias na sua vida, mas é impossível. Agora, mais de que nunca, ele vai estar presente, mesmo quando ela não estiver em casa, quando sair dela para procurar alguma diversão, procurar deixar de ficar tão doída com tantas lembranças e com tanta presença, Sabe que não adiantará nada a fuga, pois o que vai proporcionar este distanciamento da casa onde a presença é tão grande é exatamente um carro que, se não um presente, é uma doação condicionada, uma espécie de usufruto de bem móvel, porque é dele.
Não consegue mesmo entender, não sabe por que uma pessoa pode, faz questão, de se fazer tão presente e, ao mesmo tempo, ser uma ausência tão grande que leva a outra a duvidar que isto exista ou existiu mesmo.  Não! Isto é mesmo real, a pulseira, o crucifixo, a tornozeleira, o brinco, as tatuagens da alma, tudo isto é muito real, muito presente.
Não sabe o que fazer; pega no crucifixo e solicita a ajuda de Deus, e, neste momento,percebe: ironicamente, está vestida com um pijama que era dele!!!!!!!! Tem de gargalhar mesmo. É o que faz no seu solitário quarto do outro lado do Atlântico.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Espelhinhos Sacanas!!!


O vestido é branco, é como se fosse uma bata mais comprida, estilo indiano, coisas que gosta. É completamente transparente e foi comprado, exatamente, pelo insuportável calor que esta fazendo na cidade.   A casa onde está é cheia de portas de espelhos e, de repente, olha para a da cozinha e se vê ali refletida, aliás, não quer crer que seja ela mesma.  O vestido transparente permite notar que a sua silhueta foi embora, já não tem divisão no corpo, já não sabe mais onde fica a cintura, estomago ou barriga, tá tudo junto, e como diria alguém, “ta tudo junto e misturado”; uma mistura horrível, que não deve ter gosto de porra nenhuma, talvez por isso mesmo algumas pessoas, normais-anormais, não tenham qualquer desejo pela sua figura. Sim, porque o que se lhe apresenta ali naquele espelho não é nada. Será um homem? Será uma mulher? Um travesti? Aquilo não é nada, é um amontoado de carne que se expandiu para todos os lados cobrindo todos os espaços, destruindo suas formas, acrescentando-lhe curvas indesejáveis e pregas incríveis.
Fica indignada, pensa em tirar o vestido, aquela porra que lhe permitiu, sem ela querer, que se desse conta do lastimável estado em que se encontra aos 59 anos.
Não será melhor quebrar as portas da casa? Quebrar cada espelinho daquele que lhe faz ver a realidade que tenta em todos os momentos esconder, ou melhor, não perceber. Aqueles pedacinhos de espelhos devem estar lhe desconfigurando; é claro que não pode estar daquela maneira, aquela não é ela, ou melhor: será mesmo que aquela é ela ou ela é aquele que se vê?  Será esta, ou a que pensa que é, que é a  real ?
Merda de espelhos;  tenta não os olhar mais, mas não tem jeito, eles estão em todas as partes. E a claridade! Esta miserável cúmplice daqueles pedacinhos malditos de realidade, também contribui para que ela se dê conta do que realmente é.  O contraste da luz faz com que a silhueta apareça por baixo do leve tecido, é isto mesmo; é ela sem cintura, com o estomago alto, com gorduras localizadas nas laterais, com a bunda mole, com os braços cheios de pelanca, que já não podem nem mesmo dar um bye: ao invés de saudação, as pessoas terminariam por ficar ofendidas.
Puta que pariu! Pensa em como as pessoas são falsas e como procuram se enganar a si e aos outros todos os dias. De que adianta a yoga, o pilates, as caminhadas? Porra nenhuma, as marcas do tempo estão aqui a lhe mostrar que nada vai resolver a bancarrota em que o seu corpo se encontra, daí para frente, se é que isto pode mesmo piorar, já esta muito insatisfeita com o que vê, não sabe o que pode acontecer: pensa que vai andar recolhendo pelancas e enfiando-as não sabe onde.  Será que um cirurgião plástico teria capacidade de tirar metade destas pelancas? Não acredita, ele ia ter de recortar tanto que a obra final iria ficar uma merda. Assim é que a desconfiguração seria mesmo total, porque o resultado não seria nem ela e nem nada.
Diabos de pedacinhos de espelhos inconvenientes; tem vontade de dar uma porrada na dona da casa, como se ela tivesse alguma participação nisto, como se fosse culpada da sua velhice, dos seus defeitos físicos, da perfeição da genética. Sim, perfeição da genética, é exatamente aquilo que a sua genitora foi com a idade que ela está agora, só espera que, quando alcançar a idade que ela tem atualmente, ao menos consiga andar: a mãe já não o faz.
Resolve sair daquele espaço torturador, aliás, parece uma casa de terror, e vai para o quarto. Vê-se, então, num espelho maior, não muda nada, até mesmo piora, os quadrinhos dos espelhos das portas se juntam neste espelho maior para lhe mostrar, com mais detalhes, o que o passar dos anos lhe deixou de herança, além das dívidas, claro. Tem de tudo, efeito de casca de laranja na pele, aquele que é combatido com diversos produtos que, simples e vergonhosamente, são sempre derrotados pelo tempo.  Mossas de celulite!  Têm pelas pernas, ancas, braços.  Era melhor ser um só buraco, ao invés de tantos em tantos lugares diversos.  Aqui também, os anticeluliticos perderam, descaradamente, a guerra. Os responsáveis por estas “armadilhas” deveriam ser presos, isto é uma afronta aos consumidores, uma mentira descarada e deslavada, vendida em supermercados, farmácias, botecos até, no Brasil agora se vende em ônibus.
Quer quebrar o espelho, não o faz, a voz da razão não lhe permite, ela lembra que está em casa alheia e que, apesar do corpo que ele reflete lhe pertencer, ele, espelho miserável, propagador da verdade, não é dela, além do mais, ele está cumprindo, e bem, a sua função, talvez a mais social que poderia ter, mostrar-lhe exatamente como ela é e está.
A razão, também, talvez para lhe fazer esquecer as rugas que tomam conta do seu rosto, as pregas que fazem as suas mãos parecerem de bruxa dos desenhos animados, dos seus pés enrugados e secos, fica martelando: “Você é sábia, tudo isto que se mostra no espelho é muito pequeno diante do que você é intelectualmente, diante da sabedoria que tudo isto que se espelha no seu físico lhe trouxe”.
“Manda a razão à porra: então sua ordinária! De que vai adiantar todo este saber se ninguém tiver coragem de se aproximar de mim, de estar comigo, se a minha aparência não deixa que as pessoas se aproximem, nem mesmo para compartilhar o saber?  Sai  de mim e vá procurar consolar outra idiota, não eu, que to me lixando para o saber, ele sequer me deu condição de pagar  algumas plásticas que não me deixariam chegar a isto, ao menos, por enquanto”.
“Doutora, olhe bem, Você alcançou coisas que muitos poucos conseguiram. Você faz parte de um mundo distante do comum dos mortais, isto é um privilégio, e isto só se consegue com o passar do tempo, portanto, mais uma vez lhe digo, aprenda a gostar destas marcas porque elas são o resultado da sua própria vida, da sua experiência, do seu saber”.
“Olhe razão, vá para o inferno: então eu fiz tudo isto  diferente dos pobres mortais, mas o tempo me dá o mesmo efeito que dá a eles, se fosse diferente, se alguma coisa fosse relevante em relação a tal da minha experiência, também o meu físico teria de ter algum privilégio sobre os dos demais mortais, que fizeram outros sacrifícios diversos dos meus”.
“Dra., Mestre, Doutora, olhe bem, veja quantos títulos. Quem os tem tantos? Veja o que você conseguiu?”
“Querida razão, não me aborreça. Quantas ou quantos têm estes títulos eu não sei, espero que bem poucos se o resultado final for o que hoje tenho: A solidão, as marcas do tempo se instalando sem pedir qualquer autorização, a elevação das minhas “taxas”,  os triglicérides, o colesterol, a pressão arterial. Ah! Tem uma coisa que baixa, o “estradiol” e com ele o fogo do desejo, da paixão, que já nem posso partilhar com alguém. Também os peitos,  estes miseráveis:  os róseos mamilos que se impunham diante de olhares vorazes, e que pareciam querer ganhar qualquer guerra, agora, cabisbaixos, olham para o chão, nem mesmo nas poucas vezes que, correspondendo a alguma estimulação endurecem, mudam de direção, continuam a olhar para baixo, possivelmente envergonhados do estado em que se encontram. Olhe razão, vá para aquele lugar e me deixe em paz com as suas ponderadas ponderações. Como você é abstrata não tem onde se lhe pegue, fica assim, dando de sábia e “gostosona”. Certamente você nunca saberá o que é ser gostosona, nunca sentirá o prazer de ser tocada, bolinada, mexida. Nunca terá o gosto de ouvir, ao passar na rua, alguém (e olhe que a esta altura não faria nem exigência do sexo) dizer que você é gostosa, ou ainda, para os menos novos, que você é a luz do dia, flor do dia,  uma boneca que anda e fala, dentre outras destas coisas ridículas que fazem um bem da porra ao ego, e, se deixarmos passar disto, ao próprio corpo. Você não sabe nada disto, nem amor você conhece, porque cheia de razão como é, racionalizando tudo e sempre, não vai se permitir dominar por um sentimento, que, na maioria das vezes, nos retira o próprio eu para que outro dele se aposse. Olhe razão: deixe-me em paz com esta história de saber.”
Olhou-se outra vez no espelho, tirou o vestido, vestiu uma calça grossa e uma blusa folgada, que não lhe deixasse qualquer marca, calçou o tênis, foi subir a serra, descarregar a raiva e recobrar as energias, afinal, o tempo lhe deixara mais uma marca, a da responsabilidade, e por ela, ela tinha de se cuidar, de tentar viver da melhor maneira possível, ainda tinha dependentes, ainda não podia fazer o que lhe desse na telha, o melhor mesmo era tentar baixar as taxas, e se foi.....

sábado, 8 de setembro de 2012

Enganados! Será?


Acho interessante ver as pessoas acharem que estão enganando as outras; penso que elas pensam que são inteligentes e que todas as demais, pobres mortais, são burras.
Quando as pessoas enganam as outras, lógico que estou falando daquelas pessoas que conhecemos razoavelmente bem, chega mesmo a ser engraçado, hilário até, porque a gente percebe mesmo que está sendo enganado e deixa que o idiota, que nos esta enganando, pense que esta conseguindo este grande feito.
A pessoa tem “tiques ou tics” não sei bem, que denunciam tanto as suas inseguranças em relação ao que está falando, ou à mentira deslavada que esta sendo contada, só que elas não se apercebem disto.
Por exemplo, conheço uma pessoa que tem um “tic”: quando está mentindo, contando algo que não foi real: começa a falar e a boquinha horrorosa tende para o lado esquerdo, resultado:  um espectro! A pessoa já é feia por natureza e ainda arruma um “tic” deste que lhe torna muito mais feia;  feia  em vários sentidos: exterior por não ser mesmo privilegiada pela natureza, e  interior pelo fato da mentira deslavada, cínica, imbecil, sem a menor necessidade, que está contando.  É bom que aqui fique claro que não sou das pessoas que dizem que “quem ama ao feio, bonito lhe parece” e nem “que a beleza é interior”. Não sou não: para mim feio é feio e pronto.  Se você olha para alguém e a pessoa é feia, não tem belos traços, tem boca torta, nariz enorme, olhos enviesados, infelizmente, a pessoa é feia mesmo. Acho, como Vinícius, que “beleza é fundamental”.
Falando em “tics” conheci uma outra que adorava falar de Freud, Jung, enfim, de psicologia. Achava engraçadíssimo quando ela começava a “descrever”, “narrar”, “falar sobre”, nunca soube entender muito bem o que se passava ali, e os dois dedos, o polegar e o vizinho do mindinho alcançavam os dois pontos entre os olhos e eram ali esfregados: algum tipo de massagem para ativar os neurônios, quem vai saber! Eu só achava engraçado e interessante, era como se fosse um sinal de que, naquele momento, o “saber” ia ser compartilhado; que éramos privilegiados por isto. Para mim, apenas uma demonstração da total insegurança daquele que sabe que o seu saber não é o saber, mas vai se fazer o que?
Pois é, penso que vivo uma legião de mentirosos.  Uma das grandes e esfarrapadas desculpas que ouço é quando alguém diz que não atendeu ao telefone porque estava no banheiro, puta que pariu! Pensam que eu sou idiota ou o que? Façam como eu, passo todo o tempo com o telefone no silencioso, tive de me acostumar a isto, primeiro por causa do trabalho; segundo por causa das aulas; terceiro por causa das pesquisas em arquivos e bibliotecas, em que não podia ser incomodada e nem incomodar os meus pares. Me acostumei tanto que esqueço, literalmente, de tirar o silencioso, resultado: não ouço nenhuma chamada, é bem melhor de que mentir. Aliás, quem me conhece mesmo sabe que odeio celular, que não gosto de falar ao telefone, enfim, muitos nem ligam porque já sabem que não vou atender por todos os motivos já expostos; agora inventar desculpas para justificar o não atendimento é uma merda. Não justifique nada, simplesmente não atenda e não diga por que não atendeu, é melhor.
Pior que tudo isto é você estar com alguém e ouvir o telefone da pessoa tocar e ela não atender. Bem verdade que, às vezes, faço isto, porque tem momentos de uma total inconveniência, mas ver a pessoa não atender ao telefone porque realmente não quer é um pouco demais. Pergunto-me: para que dar o número se já sabe que não vai atender. Melhor não dar.  Outro dia alguém me pediu o meu telefone, eu disse que não sabia o número.  A pessoa me olhou com uma cara incrédula: então eu não sabia o número do meu telefone!  O diabo é que eu não sabia mesmo, aliás, continuo sem saber, tanto que coloquei na lista dos contatos o telefone de “eu”, mas, na verdade, no caso a que me refiro, ainda que eu soubesse, não o diria a quem mo pediu; pois imaginem só: foi um garçom brasileiro num restaurante de Lisboa. Tudo bem que a gente tem de tratar bem a todos, mas isto não significa que viva dando o seu número de telefone a qualquer um.
De outra feita dei o número errado; simplesmente troquei o último número, felizmente que o “cara” não ligou na hora, senão o caso tava perdido e eu passava por sacana. Entretanto, o melhor mesmo é não mentir, mas naquele momento foi o melhor que pude fazer para não magoar o rapaz que estava tão interessado na minha pessoa e que eu não queria, de maneira alguma, demonstrar qualquer descaso, foi outro garçom. Penso que ando a agradar a classe!  Não confundam, entretanto, mentira com omissão. A omissão em alguns momentos é louvável, evita-se muitas coisas, mas a mentira, como diria minha mãe, tem pernas curtas, e a gente um dia descobre que um companheiro de longa data, destes que acorda e dorme com você, que as pessoas até os confundem como marido e mulher, que até tem momentos de prazer (sexo) e dividem contas, tem um caso e um filho com outra pessoa. Olhe que eles passaram muito tempo juntos, pensando um deles que era companheiro mesmo do outro. Já notaram que não eram não é?  Esta omissão não valeu a pena, porque isto não é omissão: é, e foi, uma grande e enorme traição!!!!!
Pois é, outra coisa que detesto é a curiosidade das pessoas em relação à vida do alheio. Lá quero eu saber onde as pessoas foram, estão ou vão. Não me interessa; pior ainda, quanto gastaram:  pouco me importa, a não ser quando alguém esta gastando o que é meu; aí sim, fico “piursa”  deve ser assim que se escreve, uma mistura de raiva com ursa, porque se a porra é minha, quem tem de gastar sou eu sem dar satisfação às outras pessoas. Aquelas que gastam o dinheiro que não é seu é que tem obrigação de prestar contas. Ultimamente, quanto pior, na minha velhice, quando pensava que, até por força da própria idade, da maturidade, da “sapiência”; não se esqueçam de que velhice, para alguns, é quase um sinônimo de “saber”, penso que é “experiência”, mas cada um dá o nome que quer ao passar dos anos e ao acumulo dos cabelos brancos que, infelizmente, se aboletam em todas as partes do corpo, o que é horrível; percebam que se olhar no espelho e ver os grisalhos revoltados, porque eles são revoltados mesmo, são mais grossos, inconvenientes, teimosos, se colocam em espaços indevidos, me deixa para lá de irritada, mas fazer o que não é? Eles estão aí e pronto, mas, voltando ao assunto e  a minha velhice, conheço pessoas que tem curiosidade mórbida a respeito da minha vida: gente que quer saber onde fui; com quem fui até mesmo o que comi. Se compro uma coisa, tem a desfaçatez de me perguntar quanto foi. Não gosto disto, mas a vida me proporcionou isto na velhice, e eu, por força de circunstâncias outras, que no momento não vêm ao caso, estou me sujeitando. Bem verdade que tenho uma válvula de escape: a mudez. Fico muda simplesmente. Acreditem que não respondo nada e fico somente olhando para a cara do “questionador”. É como se eu quisesse, com o silêncio, demonstrar toda a minha insatisfação com tanta curiosidade.   
E aquelas pessoas que além de questionarem querem dar palpites! Ah estas, são mesmo o fim da picada, ainda tem algumas que se fazem acompanhar de outras, que nem sabem quem você é direito, e se julgam no direito de, também, dar palpites, comentar; e a gente descobre que a droga desta pessoa, que você nunca viu, não sabe de onde veio, sabe muito da nossa vida, logicamente, porque alguém, que não é só curioso, é também fofoqueiro e gosta de falar da vida do alheio, lhe contou. Um comentário: tem gente que sabe mais da nossa vida de que nós mesmos, porque quem fala dela o faz de uma maneira que, de repente, o fato é outro, as pessoas são outras, os resultados são outros e a gente se descobre outra pessoa, outro momento, numa outra vida. Tem  momentos  que ficamos na dúvida se estão falando de nós mesmos ou se, no meu caso, por força da velhice, me esqueci daquilo.
É, mas vou ficar por aqui, só de recordar estas passagens já estou ficando irritada, porque, efetivamente, não há nada que irrite mais uma pessoa de que a mentira e esta mania que as pessoas têm de, sem ser convidadas, entrar no espaço dos outros. Se você tiver alguém na sua vida que seja assim, mentiroso e ou curioso, se afaste: é o melhor que você faz.

domingo, 2 de setembro de 2012

Aprenda como não pagar dívidas


Depois do convite presidencial ao endividamento, e já endividado em atenção a tão nobre pedido, temos de nos livrar das dívidas, e então...
Olhem! Sem querer dar de erudita, de culta, esnobe, sei lá mais o que, estou, presentemente, de intimidades com ARISTÓFANES.
Porra meu! Ter intimidade com alguém que tem este nome já é motivo para ser admirada, pois tenho certeza que, ninguém em sã consciência se aproximaria de alguém que se chamasse ARISTÓFANES, todavia, como minha mãe e Marta casaram-se com homens que se chamam AURENTINO, vá lá que eu estou muito bem na fita. Aliás, como na moda, “Causando”.
Pois é. O meu relacionamento com dito senhor provém do fato de que, por estar muito cansada de leituras que só me transportam à África, por causa do trabalho de pesquisa do doutorado, procurei me distanciar bem disto e, como na casa da minha “senhoria” portuguesa tem muitos e muitos livros, escolho um sem olhar muito bem a autoria. Escolhi pelo título e pela espessura. Um livro destas coleções que se chamam “de bolso”.