segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Aconteceu em um Natal

Estava sozinha em terra desconhecida e, apesar de ter sido convidada para passar o Natal com a família da sua senhoria, recusou o convite, por achar que o natal é uma festa tão familiar e íntima que ela ficaria deslocada, quis, entretanto, a providência divina que, bem próximo do natal, recebesse um telefonema de uma amiga, colega de trabalho, comunicando-lhe que chegaria a Lisboa e que passaria o natal com a família do seu esposo e convidava-lhe para participar da festa com a família. Ela foi pega de surpresa mesmo, nunca pensou em receber um convite assim, até porque, apesar de colegas de trabalho e de uma maior aproximação com o cônjuge feminino, a família em Portugal era da parte do cônjuge masculino, com o qual a intimidade era bem menor, entretanto, lisonjeada com o convite tão gentil, aceitou.
Os dias se passaram o casal chegou ela  foi encontra-lo no hotel, na Avenida de Roma, em Lisboa e acertaram os detalhes de tudo. Ela teria que seguir até o Porto e eles a pegariam na estação. Ficariam um dia em Vila do Conde e depois seguiriam para Amarante.
Chegado o dia, foi o que ela fez, Ela já conhecia o Porto, bem como Vila do Conde, mas naquele momento tudo era uma novidade, pela situação claro. Chegou à estação ferroviária do Porto e lá estavam eles. Ainda no trem ela ia pensando: meu Deus como será isto? Ela e a colega eram tão diferentes. Ela irreverente, a outra pacata, senhorial, séria, mãe, esposa, doutora. De comum com a outra, apenas a profissão.  Naturezas completamente diversas. Ela bebia, e muito, a outra sequer tomava vinho, vejam vocês, que problema.  Mas a gentileza do convite era irrecusável, portanto, agora tinha mesmo e a que se comportar, afinal ela era um Dra. que tinha sido convidada para passar natal na casa de uma família portuguesa, que ela jugava cheia de melindres, de não me toques, de sobriedade.  Outra coisa, ela estava em Lisboa fazendo o mestrado em Direito, portanto, tinha a sua bagagem intelectual e cultural e toda a pretensa liturgia do cargo que ocupava.
Muito bem recebida na estação pelo casal e um primo deles, um senhor muito gentil que, logo que ela adentrou ao carro começou a colocar músicas brasileiras a tocar, começando logo com Maria Bethânia; ela de logo, já ficou sensibilizada com a estória.
Lá se vão eles em direção à Vila do Conde onde o hotel já havia sido reservado. Colocou a bagagem no quarto e foi para a portaria, onde eles ficaram esperando para levá-la para uma maratona que teve, ali o seu começo. Foi recebida por todos os familiares do casal com pompas de rainha, melhor vinho, melhor comida, queijos, tudo enfim. Ela estava encantada. Soube, pela amiga, que ela tinha de comprar um presente para o seu amigo secreto, pois ela fora incluída na lista. Aí é que ia ser duro, imagina: como comprar presente para quem não se conhece? Resultado: o seu amigo secreto não foi tão secreto assim, porque teve de perguntar a amiga quem era a pessoa, como ela era, enfim, os detalhes, para que o presente não ficasse tão dispare da pessoa.
Para sua sorte, todavia, eles foram almoçar, ou jantar, já não se lembra bem, na casa da sua amiga oculta, que era uma menina de uns 14 anos, uma adolescente com todos os pormenores da sua fase de vida.  Coincidentemente a menina tinha cabelos encaracolados, não iguais aos seus, aliás, ninguém tem um cabelo igual ao seu, rebelde tal qual a sua dona em tempos idos, o desgraçado desfaz os seus cachos, fica em pé, revolta-se com o vento e se põe em pé de guerra com ele, resultado, o vento sempre vence e eis uma verdadeira catástrofe. O da amiga oculta era lindo, cachos bem mais soltos, nuances de louro, tudo aliado ao frescor da juventude.  Notou que a menina usava uns brincos bem grandes e então decidiu: “vou comprar brincos” e lá se foi ela à procura dos brincos, no entanto, não achou nada que interessasse e resolveu comprar um conjunto de, se bem lembra, lápis, canetas, estojo, etc. da Ágata alguma coisa. Estava bem na moda, e era realmente interessante e estava dentro do valor fixado para os presentes. 
Dia da festa todos seguiram para Amarante. Ela preocupada, realmente estava tentando conscientizar-se que era uma Dra. e tinha de se comportar como tal, afinal, não podia decepcionar os seus anfitriões.  Chegaram a Amarante lá pelo meio dia e foram direito para a casa da família que estava preparando a ceia de natal.  Ela apesentada a todos estava meio inibida, sabia que, de uma maneira ou de outra, era o centro das atenções, ela que era tão diferente da colega que a levou. Eles estavam acostumados com a sobriedade, com a educação, com a delicadeza e aparece ela: nada sóbria, nada delicada, com apenas educação. Bom mas ao que parece, depois do primeiro impacto, tudo bem. E aí começou a sua derrocada, ou melhor, a do casal que a levou.
Vinho, bacalhau, azeitonas, etc. etc. Ela tomando todas, queria ajudar na cozinha, mas era impossível, assim ficou entre os homens e estes não lhe pouparam os copos. Resultado que, no final do dia, ainda sem a ceia, ela já estava para lá de Bagdá, tirou até foto chupando, pasmem vocês: espinha de bacalhau.
Tudo corria as mil maravilhas, ela já à vontade ouvindo piadas, brincando, mas aí veio o momento em que teve de ir ao banheiro!!!!!!!!!
Mostram-lhe onde ficava a casa de banho e lá se vai ela. Entra, fecha a porta, tira a calça, senta-se no vaso. De repente, quase dá um grito: Tinha outra pessoa no banheiro. Quase se levanta do vaso, por alguns segundos ficou ali sem saber bem o que fazer e aí, entre o real e o fictício do álcool, percebeu que era o seu próprio reflexo no espelho da porta e, infelizmente, notou que aquilo ali que estava sendo refletido era a sua “dita cuja”. Coisa mais feia, se a bicha já é feia totalmente fechadinha, guardada, imagine toda a vontade vertendo água. Bem verdade que tem gosto para tudo, os homens, em geral, e até mesmo algumas mulheres, gostam desta coisa, mas ela não tinha qualquer motivo para admirar uma coisa daquela, pior ainda, naquela situação.  Diante da desagradável surpresa de ser literalmente apresentada à sua própria “coisa”, na casa do alheio e por um espelho maldito colocado, para ela, indevidamente, na porta do banheiro, acabou o serviço, enxugou-se e saiu da casa de banho decidida a falar do mau gosto do idealizador daquela indignidade.
Saiu do banheiro e dirigiu-se diretamente à dona da casa, que estava na cozinha e bem perto dela disse: Quem foi que teve a brilhante ideia de colocar espelhos na porta da casa de banho? Isto é uma afronta, pois não é que eu fui apresentada à minha coisa assim, tão desagradavelmente? A senhora olhou para ela e ela pensou: É agora, vou ser é expulsa desta casa. Mas, ao contrário do que pensou, a mulher olhou para ela e disse:
Como é? Não entendi direito.
E ela repetiu om todas as letras o que dissera antes.
 A senhora quase tem um ataque de riso, ria e ria, e chegava mesmo a se embalançar de rir, e todos olhando para as duas sem entender porra nenhuma.
Ela, não satisfeita, ainda fez outro comentário. Por que merda não botou espelho também na parede atrás do vaso? Assim as coisas seriam mais justas e igualitárias, porque o homem quando fosse utilizar a casa de banho também poderia ver o seu instrumento pelo espelho. A mulher não parava de rir, e o povo com mais curiosidade ainda. A colega atônita olhava para ela com uma grande interrogação, embora já estivesse rindo de ouvir a gostosa gargalhada da dona da casa.
Refeita, e agora ela é que não sabia o que fazer, a senhora passa a contar a estória para os demais. Evidentemente que mesmo em tamanho estado etílico, ela ficou ruborizada, mas todos se escangalharam de rir daquilo tudo, o que, decididamente quebrou todo o gelo entre ela e os familiares da amiga, que, apesar de ruborizada, sorria e dizia: “Só você mesmo para fazer uma coisa desta”.
Passou a noite em família, com pessoas agradáveis e que se mostraram realmente como eram, apenas e tão somente, porque a irreverente Dra. que eles abrigavam era uma pessoa “normal” que podia até mesmo, dizer sacanagens, ser engraçada, enfim, ser ela mesma.
Agradece a todos pelo que lhe proporcionaram, mui principalmente ao casal “cítrico”. Tenham um bom Natal.   

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