quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Vá a Lisboa


Vá a Lisboa! Chegue á noite e de navio, entre pela porta da frente, pelo Tejo, verá que é inesquecível, mas se não puder ir de navio, não se preocupe, chegue de avião, mas vá. De avião já terá uma noção do que vai encontrar em termos de recursos humanos em Portugal, as gentis hospedeiras! (assim são chamadas as aerovelhas da TAP),mas o quadro, felizmente, está em renovação.
Se chegar de navio, veja, do Tejo, Lisboa inteira, sorridente, com as suas luzes. Identifique os lugares, os monumentos. Convença-se que é rio, não é mar as aguas onde, no momento, navega. Veja de perto a ponte 25 de Abril, você vai passar por baixo dela, da pequena réplica da Golden Gate, isso mesmo, aquela lá de São Francisco, Califórnia. Olhe para o lado direito, e veja, mais uma réplica, bem menor, do Cristo Redentor, o nosso do Rio de Janeiro. Continue olhando e, se for baiano, perceba a semelhança com a nossa Salvador, pois verá uma cidade alta e uma baixa. Lisboa é cheia de ladeiras, altos e baixos, sabendo de logo que as semelhanças não param por aí, isto no aspecto físico da cidade.
Olhe mais! Se encante. Veja as docas com os seus bares e movimento noturno, espero que chegue mesmo a noite. O Cais do Sodré, o Terminal de comboios, o Terminal de Barcos, O Mercado da Ribeira, tudo muito bem iluminado. Deixe o olhar alcançar o que quiser, pois tudo será maravilhoso, não há nada feio em Lisboa quando ela é vista do Tejo.
Se, mesmo à noite, o seu navio chegar cedo e você puder sair, caminhe pelas docas, veja a variedade de estilos dos bares e dos restaurantes. Lisboa agrada a todos os gostos. Entre no Havana ou no Hawai, dance, dance muita salsa, música espanhola é o que não falta, sem esquecer da nossa música, que é tocada em todos os lugares.
Não se assuste se ouvir Bruno e Marrone e nem por ouvir o nosso sotaque em todos os momentos: Lisboa está infestada de brasileiros; turistas ou não, você vai se surpreender a todo momento, seja em bares, seja na rua, seja em restaurantes, etc. etc. Há brasileiros e brasileiras para todos os gostos, até para o dos portugueses, os mais velhos adoram ter uma companhia brasileira: as senhoras para não viverem sozinhas nos seus últimos dias, os senhores para que tenham uma empregada de cama e mesa em troca de um abrigo e comida e, em alguns casos, da cidadania português, e mais ainda, alguns são capazes de ostentar a virilidade, pense aí!
Espere para o dia seguinte, há muito mais coisa. Acorde e veja, outra vez, Lisboa do Tejo, agora em pleno dia, que espero esteja radiante. 
Deixe o navio ou o hotel, lógico que depois de tomar o pequeno almoço, é assim que eles chamam o café da manhã: Se possível, vá a pé até a Praça do Comércio. Chegue lá, fique de costas para o Tejo, não por muito tempo, ele não vai gostar, porque, narciso como é, não vai entender este desprezo, mas é necessário, para que você veja toda esta praça com os seus arcos e com o maior deles, o que dá acesso à Rua Augusta. Atravesse-o, ande pela rua, absorva-a, alcance o Rossio. Veja o Teatro Dona Maria e observe o movimento. Chegue até o teatro, esqueça a sujeira, não veja estas coisas, não olhe os mendigos, que ainda podem estar dormindo na esplanada do teatro, vire à direita, beba uma ginja, uma bebida alicorada típica de Portugal. Tome esta bebida, custa apenas 1 euro, e quando o empregado perguntar com ou sem, diga com, porque assim você pode ver e sentir o fruto dentro do copo. Beba vagarosamente olhando o movimento deste largo, que se chama São Domingos. Preste atenção, veja a África presente em Lisboa. Se surpreenda com os negros e negras vestidos a rigor, com as suas roupas coloridas e típicas. Se por perto estiver algum português poderá sentir o desprezo que eles têm por estes negros, aos quais, desdenhosamente, chamam de “os pretos”. Se tiver sorte ouvirá uma velha portuguesa dizer que “esses pretos” tem mais direitos de que os portugueses, dão-lhes casa, dão-lhes comida, emprego, não se lhes podem maltratar, enfim, todo o ódio e rancor da ainda “raça” ariana, que não admite a perda das colónias, incluindo aí o nosso querido Brasil, que hoje exporta para Portugal, prostitutas, marginais, desocupados, amantes que se apossam dos “maridos” portugueses, o que é tema de reportagem televisiva e de queixa policial, e olhe só, aos cuidados da policia judiciária, uma das divisões da força publica em Portugal, que parece ter mais policia de que gente, GNR, Guarda metropolitana, forças armadas em geral, etc., além de outras autoridades que agem como se policia fossem, os senhores fiscais dos transportes. Se tiver num dia feliz pode encontrar, numa mesma viagem, três ou quatro patrulhas a lhe pedir o bilhete, cuidado! Eles são autoridades mesmo, andam em gang, nunca entra um sozinho, só de três em diante, e ficam muitos felizes de aplicarem coimas (multas). Todos tem a mesma resposta, isto é proibido por lei, vá reclamar no local adequado.

Você continua em Lisboa, mas por um momento esquecerá disto, caso não tenha portugueses por perto, porque os negros das mais diversas etnias, estão falando uma língua que não entende, nem poderia. Os dialetos são variados, como variadas são as origens: Cabo Verde, Guiné, Angola, Moçambique, São Tomé, a tudo isto acrescente os “chinocas”, estão por todos os lados de Lisboa, e não só, mas em quase todo Portugal. Tem mais ainda: Os ciganos, você os reconhecerá, não se assuste, eles não fazem mal até o momento em que você não faça nada que eles não gostem, nem caia na bobagem de ofender um membro do clã: o clã inteiro vai lhe pegar, se sair vivo, o que se dúvida, poderá contar a estória. Fique atento e veja se entra numa das diversas lojinhas que vendem ouro, usado ou não. Observe se não há algum casal de cigano dentro dela: não é vendendo, é comprando mesmo. Eles andam com dinheiro vivo na mão e, se tiver sorte, poderá ver a negociação entre o vendedor e o cigano pagador. Possivelmente a mulher terá escolhido um bracelete, bem largo e bem pesado, o maior brilho possível, custa a bagatela de 5.000,00 euros, que serão pagos à vista, talvez, com a negociação, possa sair por 4.000,00 euros. O preço na verdade não é o importante, o importante é que será pago em dinheiro vivo, transportado no bolso do cigano. Inacreditável, mas é assim mesmo.
Saia da loja, siga em frente e alcance a Praça da Figueira, tome o eléctrico, para nós, um bondinho. É todo amarelo, alguns são vermelhos. Entre nele, é o de nº 12, e vá até o castelo de São Jorge.
Chegou! Acabe de subir a pé para o Castelo. Perto das muralhas, ainda fora do castelo, veja que primor de banheiro público para homens, fica num cantinho do lado direito, com o sugestivo nome de “urinol”. Se tiver coragem e vontade, e se for homem, mije mesmo, só terá esta oportunidade. Acabou! Continue a subir e entre no Castelo, é pago, mas não deixe de entrar. Agora olhe o Tejo e Lisboa lá de cima, fique surpreso com tanta beleza. O Tejo vai te olhar também, ele sempre olha para quem o admira. De soslaio, para que ele não perceba e não fique chateado, olhe Lisboa de cima: nunca mais esquecerá esta visão.
Olhe tudo, fixe-se em cada detalhe, nos telhados, nas escadarias, nas ruelas. Nos nomes das ruas e becos. Depois de olhar bem, desça vagarosamente pelos becos, pare nas tascas (pequenos bares) tome uma imperial e aproveite para comer um pastel de bacalhau, que não é pastel, é o nosso conhecido bolinho de bacalhau. Se tiver com muita fome, coma um prego, mas se a fome poder esperar, deixe para comer este prego no Rossio. Se não gostar de prego, pão com carne de vaca, coma uma bifana, pão com carne de porco; coma mesmo, é bom. Olhe a estação, admire o monumento, entre nela, veja o que eles conseguiram fazer.
Se tiver com dinheiro suba a avenida da Liberdade, escolha o lado direito de quem sobe, vai encontrar as marcas Dolce Gabana, Luis Vouiton, Trussard, Armani, Tous, dentre muitas outras, pois em Lisboa também tem tudo isto. Antes porém, olhe para a Rua depois do Correio, veja o Ateneu, olhe o prédio que fica do lado esquerdo desta rua, olhe a fachada. Aqui tem Hard Rock e tá na moda, é incrível não é?
Suba a rua toda e dê de cara com o Marques de Pombal. Olhe o monumento, veja o que ele sugere. É isso mesmo, é para demonstrar o poder desse homem, que continua guardando a sua preciosa cidade, mas não lhe de muita atenção e siga em frente, cuidado com a rotunda! Eles são loucos dirigindo, atravesse no sinal e vá até o parque. Respire fundo e suba tudo. Agora vire-se e olhe para a sua frente: Viu? Uma maravilha, mais Tejo e mais Lisboa.
Não pare por aí, se estiver cansado demais desça, vagarosamente, o parque. Lá em baixo pegue o metro, linha azul e saia na estação do Chiado, ali você pode ver o Fernando Pessoa te esperando para um café, na espalanda da “Brasileira”.
Se ainda tiver pique vá subindo, passe pela frente do Consulado Brasileiro e siga em frente, vai chegar em um lugar chamado Santa Catarina, entre nas ruas, olhe bem as ruas e os eléctricos que transitam por ali. Grave o nº 28, você vai precisar tomar este bondinho se estiver em Lisboa no sábado e quiser ir à feira da ladra. Quando encontrar o Alto de Santa Catarina, pare: deslumbre-se! Veja o seu navio ancorado lá do alto, aviste o outro lado do Tejo.
Ainda é cedo, mas se gostar de dançar música de salão e for uma terça, quinta ou sexta-feira, desça a rua e vá para o Mercado da Ribeira. Você vai se divertir. Aí vai encontrar o que os portugueses chamam de baile. Bom mesmo é aos sábados e domingos, mas como você, possivelmente, não estará aí nestes dias, aproveite e entre logo: mulheres pagam 2.00 euros e homens 3,00. Não tome susto, é assim mesmo, a meia e a terceira idade também se divertem e o fazem pela tarde, os bailes começam as 3 ou 4 e acabam as 7.00 ou 8.00. Se não quiser dançar, apenas sente-se e divirta-se. Olhe os tipos, olhe as roupas, olhe as louras, aqui como em todo o lugar do mundo, penso eu, depois dos 35 todas as mulheres são louras. Aprenda a viver, pois ai está uma lição de vida, embora a “society” portuguesa não recomende a ninguém tais bailes.
Não olhe para os homens directamente, eles vão te chamar para dançar, embora, cortesmente, aceitem um não, mas não é bom. Não dê muita colher de chá aos portugueses, eles sempre pensam que as mulheres sozinhas que vão a estes bailes estão caçando, o que não é uma grande mentira, mas tudo comporta exceção. Preste atenção nas senhoras portuguesas, olhe bem as bijouterias, ou até mesmo as jóias, elas ainda tentam mostrar as posses ostentando as suas preciosidades, muitas, visivelmente, falsas. Se for homem, cuidado! As senhoras atacam com o olhar sem qualquer pudor, algumas, mais afoitas, vão mesmo no vamos ver.
Por hoje volte ao barco e descanse, amanhã terá um dia agitado e corrido, afinal só terá três dias em Lisboa e deve, nesse dia, conhecer muita coisa. Se não estiver esgotado, saia do navio ou do hotel à noite, vá ao Jardim da Estrela e entre no Pavilhão Chinês, que de chinês não tem nada. Não deixe de ir. O Bar é mesmo sensacional. Pena que tudo agora no Bairro Alto encerre às 2.00 da madrugada, mas aí, se quiser esticar mesmo, você desce até as docas e dança, querendo, até de manha. Pode escolher a vontade.
Se tiver coragem, e só mesmo para conhecer, entre em algum bar das ruas interiores do Cais Sodré, lembrará das nossas boites dos anos 70, mas não permaneça muito tempo, o suficiente para conhecer, ouvir duas ou três músicas, que também remontam aos anos 70/80, tome duas imperiais, caríssimas por sinal nestes lugares, e saia, caso contrário, se for mulher, alguém vai te perguntar qual o preço: É melhor, pois, não abusar. Se for homem alguém te pedirá para pagar um copo e, de copo em copo, pode até copular. Não é recomendável, entretanto. Se for mesmo retado (a), vá ver um show de streap, vai se divertir a valer: normalmente, uma brasileira, feia, gorda, com as ancas celuliticas, vai tirar a roupa e vai se esfregar naquela vara, que toda a streap que se presa tem como auxiliar para as poses sensuais. É hilariante! Bata palmas e não deixe que a “artista” perceba que esta a rir dela.
Cansou, vá dormir. Amanhã é outro dia, dia de comer e de ir ao outro lado, em Cacilhas, almoçar lá. Se gosta de marisco e peixe, vai adorar. Pense em comer bem e olhar Lisboa, mais uma vez, do outro lado do Tejo. Simplesmente deslumbrante!
Almoce bem e volte. Agora pegue o metro no Cais Sodré, onde o barco vai te deixar. A linha é a verde sentido Telheiras. Saia na Alameda, faça a conexão com a linha vermelha, siga até a estação oriente, não se preocupe, não vai se perder, é a estação terminal. Você vai sair no terminal e entrará, querendo, diretamente no shopping Vasco da Gama. Digo-lhe que é melhor subir as escadas e sair na rua onde poderá ver a maravilha da arquitetura, seja do shopping, do terminal misto (comboio, metro, ônibus) e ficará mesmo extasiado.
Entre no shopping Vasco da Gama e sinta-se no navio, a ideia é esta. Olhe os detalhes, saia pela porta afora para não gastar dinheiro e ter tempo de ver mais. Veja tudo no detalhe, não deixe nada passar desapercebido. Não vá ao aquário, seu tempo é curto, mas se for imprescindível, jamais esquecerá do local.
Siga em frente e, de novo, dê de cara com o Tejo, olhe para o lado direito e veja todo o colosso que é a Ponte Vasco da Gama. Passeie pelo Parque, admire a arquitetura. Tome, se lhe apetecer, o teleférico, caso contrário, ande margeando o Tejo e passe pela ponte de madeira, encontre o Cuba Libre. Descanse um pouco, e se o Zé estiver lá, o Zé é inconfundível, é um cabo verdiano que está sempre de boné, não há outro ali, peça um Mojito (limão, hortelã, rum e agua mineral), dizem que era a bebida preferida de Heminghway em Cuba. Curta a bebida e o visual, vale a pena.
Já sei que você não quer sair daí, mas é preciso, afinal está em Lisboa e precisa ver o fado. Hoje a noite é um dia bom para tal, mas não vá em casas de espetáculos, vá onde os portugueses vão escutar fado e onde as pessoas podem cantá-lo em momentos permitidos. Mas escute a dor do fado, os portugueses sabem cantar muito bem a dor. Vá ao Jardim do Poço do Bispo, ou em tascas em Alfama.
Ainda é cedo, não vá nem para o hotel e nem para o navio agora. Vá para as docas de novo, aconselho, o bar dos ingleses, (Irish) tome um drink, fique a vontade, e, mais uma vez, observe. Vai ver uma galinhagem mais estilosa, mas galinhagem do mesmo jeito. Inglesas, francesas, gaulesas, enfim as nacionalidades fazendo uma bonita estoria de união, enfim, todas se oferecendo, muitas já bem bêbadas. Sem problemas, em Portugal podemos beber livremente.
Deixo você descansar agora, porque amanhã é dia de comer bacalhau e tomar vinho, deixe para o último dia isto que é para ir embora com os sabores, deliciando-se. É melhor que faça isto no almoço. Se ficar no centro de Lisboa, não tenha medo, em qualquer tasca pode pedir este bacalhau. Se preferir sair do centro, vá de novo ao Parque das Nações e na passarela dos restaurantes escolha o que tem o nome Sabores do Atlântico: peça uma couvada de bacalhau, você nunca mais vai esquecer, não vou nem dizer como é; tira a surpresa e antecipa-se a degustação e eu jamais faria isto com você. Se tiver ainda com dinheiro para gastar peça um bom vinho alentejano, tem de ser alentejano. O preço realmente faz a diferença, portanto não dá para recomendar os baratos. Fique atento ás letras no rotulo VQPRD (vinho de qualidade produzido em região demarcada. Se tiver com pouco dinheiro, não tema, tome o Monte Velho, ou então o EA, pode arriscar o Periquita, vá em frente, não se acanhe. Se o dinheiro tiver sobrando experimente um Cartuxa, quanto mais velho melhor ou ainda um 100Reys. Agradeça a Deus estar aí e sinta-se um felizardo. Muito poucos fazem o que você fez até agora.
Poucos sentirão Lisboa como você acabou de fazê-lo, porque agora, depois da couvada, e depois de um digestivo, tome mesmo, a comida é pesada. Ah! Ia esquecendo, se estiver em companhia de mais 2 pessoas, peça somente uma couvada, você vai ver que dá e, talvez, até sobre, talvez mesmo.
Fique uma meia hora sentado olhando o Tejo, veja a paz e pergunte-se porque o português é tão mal humorado, não deveria, pois quem tem o Tejo tinha de ser feliz vinte e quatro horas. O Tejo, tal qual o mar da nossa Salvador, traz paz, escuta-nos, consola-nos.
Se não tem medo de perder dinheiro, ainda que pouco, não deixe de ir ao Casino de Lisboa, abre as três da tarde, mas não fique muito tempo, aquilo é uma tentação. Vá as máquinas do diamante, se tiver sorte, vai tirar os diamantes da cor rosa, 1500 euros, dá para uma boa farra. Não tente muito, constate que as máquinas são cruéis e vão te dando esperança até tirar o seu último vintém, mas vale a pena, se tudo for a titulo de brincadeira.
Pronto! Agora escolha o que quiser fazer, qualquer coisa lhe fará bem. Tome um táxi e volte ao centro, cuidado com o taxista, ele vai lhe perguntar de onde é, se tá a passear, o que faz, vai falar de Pedro Alvares Cabral, das conquistas portuguesas, do tempo que passou na guerra da África, eles são ufanistas, embora taxistas, pedreiros, encanadores, etc. São curiosos como todo bom português. Saia no Rossio e, se quiser aproveitar porque está em Lisboa, entre numa livraria, vá a um sebo, a uma loja de antiguidades.
Tem muito mais coisas, mas não dá para quem só vai passar três dias. Se ficasse mais tempo, você ainda poderia ir à feira de Carcavelos, onde a ciganada vende tudo, Luis Vouiton, Tous, Dolce Gabana, Lacoste, etc, etc. É a festa da luso cultura, aí encontramos: africanos, brasileiros e portugueses, porque eles vão mesmo. As senhoras portuguesas, que embora não admitam frequentam estas feiras e compram as falsificações como todo e qualquer vivente. No sábado, pela manhã, outra feira, a da ladra, olhe bem o nome. Se vende de tudo, de tampa de vaso sanitário quebrada até relógios finos de parede, antiguidade mesmo, livros, discos, pratos, tudo exposto no chão, ao ar livre. No domingo, outro encontro com a lusofonia, você poderia ir à feira das Galinheiras, ou então à feira do relógio: mais falsificações, mais africanos, mais ciganos, mais brasileiros, mais ucranianos, russos, etc., etc.
Também poderia ir a um jogo de footbal, com sorte, poderia ver Sporting do Paulo Bento e o Benfica, mas cuidado! Fique neutro, eles realmente são adeptos dos seus respectivos clubes, não discuta com eles, ouça-os apenas. Deixem eles falarem de Cristiano Ronaldo, o melhor, embora todos nos saibamos quem sempre foi e quem sempre será o melhor jogador do mundo, mas eles só tiveram isto uma vez, agora, portanto… Se tivesse mais tempo aconselharia a tomar uma aula de jornalismo na televisão portuguesa, recomendaria assistir uma entrevista de algum entrevistador português com algum especialista em qualquer área: a pessoa é convidada e não tem chance de falar, porque o jornalista sabe mais de que ele e termina todas as suas explicações, isto é, quando lhe dá alguma oportunidade de se expressar. Um tiro no saco! Eles pensam que estão a fazer um grande jornalismo.
Seria bom, também, ver um pouco e aprender, como é ser politico e fazer política em Portugal, assistir um debate no parlamento é ter munição para muitos programas do Feio, é este mesmo o nome do humorista, e dos gatos fedorentos. Ver o Sócrates sofismar é maravilhoso. Assistir um ministro mostrar chifres para os deputados, é hilariante. Ver o séquito da Manuela Ferreira Leite é fenomenal; Aqui os políticos andam de turma, nunca se está só, mas isto parece ser universal. É bom saber, porque um deputado diz literalmente, que o parlamento não é, embora pareça, “o cabaré das coxas”!
Enfim, venha a Lisboa e viva Lisboa, lembrando que Portugal não é só Lisboa e que em muitos dos recantos portugueses há um rio, que pode não ser tão lindo e importante com o Tejo, mas como disse Fernando Pessoa, “[…] mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia”.






terça-feira, 28 de setembro de 2010

Motivo de"relevância nacional"

A Vara era a de um Santo Antonio, o de Jesus: percebam logo de qual é a Vara da qual estou falando para que o Santo não fique ofendido.
Fazia, normalmente, as audiências pela manhã, porque sempre achei que o dia se alonga mais e fica mais produtivo, principalmente em trabalhos “penosos” em que se sabe o horário de inicio, mas nunca se sabe o do término.
Fazia, em média, 15 audiências dia. Sem dúvida que existiam muitos acordos, mas sempre havia uma instrução mais problemática, principalmente quando os patronos das causas não eram da região e tinham códigos de processo diferentes dos “nossos”. Os que advogam em outras praças, principalmente São Paulo e o resto do Sul do Brasil, tinham um código de processo civil especial, desconhecido na Bahia. Tive algumas discussões exatamente por isso, porque sempre fiz audiências unas; para quem não sabe, audiências em que todos os atos eram realizados em uma única sessão, desde a apresentação de defesa passando pela impugnação de documentos, interrogatório das partes, ouvida de testemunhas até as alegações finais em uma única sessão. Só nunca consegui julgar os processos em mesa de audiência, talvez por incapacidade mesmo, mas, muito também, para respeitar quem estava à espera da sua hora, pois acho uma grande sacanagem para com as partes e patronos a longa, e inevitável, espera do seu horário, que nunca é cumprido por completa impossibilidade, e alguém ainda se dar ao luxo de dar sentença em mesa. Os de fora, não acostumados com o procedimento adotado por mim e muitos outros juízes, aliás, recomendado sempre, e ganhando pelo ato processual, queriam sempre o adiamento. Bom mas isto não vem ao caso agora.
O que quero falar é de uma especifica audiência.
Não me lembro exatamente o nome das partes, quero dizer, do reclamante. Sei que era um pedreiro e que tinha trabalhado na restauração do antigo cinema de Nazaré das Farinhas.
O pregão é feito, as partes, segundo a pauta, eram dois homens, o reclamante, que como já disse era pedreiro, e uma pessoa chamada Marcos alguma coisa, não me lembro também.
Feito o pregão adentram a sala: Um homem, que era o reclamante, acompanhado do seu patrono e duas senhoras que também estavam acompanhadas de advogado. As partes, e respectivos patronos, tomam os seus lugares à mesa. Se ainda me lembro, reclamado à direita do Juiz; reclamante à esquerda, o que já recomenda mal, principalmente quando a esquerda era tão festiva.
O advogado do reclamado, assim que se acomoda, diz que vai fazer um acordo.
Eu pergunto:
- Dr. Onde está o Sr. Marcos? Ele me diz que as duas senhoras vêm representá-lo e que já estavam autorizadas a fazer o acordo.
Sendo a ação contra, quero dizer, hoje em dia, “face a” a uma pessoa física, como se este “face a” pudesse humanizar mais o processo e retirasse o fato de que a parte é sempre contrária, não seria possível esta representação.
As duas senhoras, coitadas, não entendiam nada do que estava se passando ali, e diziam:
- O Marcos mandou o dinheiro para fazer o acordo, ele não quer confusão, quer resolver isto rápido, porque ele mora fora e não pode ficar vindo a Nazaré para comparecer à audiência.
Até então, o reclamante e o seu patrono estavam calados. Claro e evidente que convenientemente, eles bem sabiam que um acordo seria ótimo, depois lhes digo o motivo.
O advogado do reclamado insistia:
- Dra. nós queremos fazer o acordo, até o dinheiro está aqui, na mão das senhoras, dinheiro vivo, que será pago de uma só vez.
- Dr. Isto não interessa, o que interessa, e eu não posso fugir disto é que a parte precisa estar presente à audiência, e, no nosso caso presente, ela não está.
O advogado insiste e eu pergunto:
- Qual o motivo da ausência do Sr. Marcos. O advogado diz que ele esta viajando.
As senhoras tornam a dizer que o “Marcos” quer o acordo, mandou dinheiro, quer acabar com aquilo.
Eu sugiro então, que, se a parte reclamante concordasse, eu remarcaria a audiência, e eles no interregno entre esta e a outra, fariam o acordo e eu o homologava sem que fosse necessária uma nova audiência.
Pergunto ao patrono do reclamante:
-Dr. o senhor concorda? Ele fica hesitante e pede para conversar com o seu cliente.
Nisto, pergunto ao patrono do reclamado qual o motivo da viagem do Sr. Marcos, sabendo ele que iria ter uma audiência naquele dia; e então vem o inesperado:
- Dra. O Marcos é o jogador “VAMPETA” e hoje ele está no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, onde vai jogar pela Seleção Brasileira.
- Quem? Vampeta?
- Sim Dra., O Vampeta!
Viro-me, agora par ao reclamante e lhe pergunto.
- Em que obra o senhor trabalhou para o Sr. Marcos.
- Na do cinema.
Olho bem para o reclamante e pergunto:
- Na do cinema de Nazaré, cujo financiamento está sendo feito pelo Vampeta?
- Ele responde: Exatamente.
Não deixo que continue e, sem ouvir mais ninguém determino o adiamento da audiência por motivo de relevância nacional.
Ninguém diz nada. Sorriem, aceitam, vão embora.
Por que aceitaram? Primeiro porque sabiam que eu não mudaria a posição mesmo. Segundo porque: o patrono do reclamado sabia que eu poderia não reconhecer a revelia, mas, acataria a confissão quanto às matérias fáticas, embora isto dificilmente acontecesse, porque todas as vezes que aconteceu da parte reclamada não estar presente, nunca deixei de interrogar o reclamante; tive casos, inclusive, que a ação foi julgada Improcedente. O reclamante por sua vez sabia que faria um acordo que em tudo lhe era benéfico, pois, apesar da obra de restauração do cinema estar sendo financiada pelo “Vampeta”, numa iniciativa merecedora de aplausos, ele não era o empregador e a sua ação teria um de dois resultados: ou extinção sem julgamento de mérito, ou Improcedência.
Aqui há que se fazer um parêntesis: para agradecer mesmo ao jogador o que ele fez pela sua cidade, pois vim a saber que não foi só esta obra que ele financiou. Fez ele muito mais coisas pelo seu Município, pelo seu povo, inclusive, soube por terceiro, e não sei se é verdade mesmo, acredito que sim, mas não vou garantir, embora isto tenha sido divulgado pela imprensa, que o jogador fez uma doação de uma ambulância para a cidade. A doação foi em dinheiro e quem teria ficado com a obrigação de efetivar a compra foi a “Prefeitura”. A ambulância efetivamente foi comprada, houve festa, agradecimentos públicos, etc. Passados alguns meses, circula o boato que o jogador não pagou a ambulância e que esta tinha sido tomada. Na verdade o que aconteceu, também segundo informações, foi que pegaram o dinheiro do homem, fizeram não se sabe o que com ele e compraram o veículo financiado e não pagaram o financiamento. Resultado: para quem sabia que a doação fora feita pelo jogador, quem ficou mal no jogo foi ele.
Ah! Salvo engano, o jogador, nessa época, jogava no Paris Saint Germain e o cinema ficou lindo, eu estive lá pessoalmente para ver o resultado da restauração, recomendo a todos uma visita.
Assim, todos ficaram satisfeitos com o adiamento pelo “relevante motivo nacional”, afinal o reclamado estava representando a Pátria e não poderia ser punido por cumprir um dever cívico.
Em tempo: Fizeram acordo!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Tenho muitas saudades!

A primeira vez que viajei com você, se bem me lembro, foi para Nova York. Não estávamos sozinhas, éramos em cinco, eu, você, duas colegas e Carlos, você lembra? Tínhamos uma guia brasileira que não falava inglês, quero dizer, tinha um inglês very very poor, mas se arvorava a levar grupos para os Estados Unidos. Ficamos em um hotel perto da 5ª Avenida. Salvo engano, era época da semana santa.

Estávamos deslumbradas com Nova York. Carlos, naturalmente, como todo bom consumidor que se preza, empolgado com tantas formas de gastar dinheiro. Eu gastando com presentes para toda a minha família, idiota de sempre. Procurava um relógio que estava na moda para o Fabio, já não lembro o nome,um Acqua qualquer coisa, porque lá se vão anos.

Entramos no Hard Rock Café e no Planeta Hollywood que estavam bem na moda. Compramos camisas várias, eu para os meus filhos, você para alguém que já não me lembro. Sabe que ainda tenho lá em casa, tanto estas quanto as da coca-cola, lembra?

Fomos assistir Miss Saigon, encontramos colegas na entrada, e olhe, estávamos em Nova York e encontramos colegas, mundinho pequenino este!

Estivemos em New Jersey, não sei bem porque, nos levaram a lojas que vendiam roupas em quantidade, acho que nos confundiram com sacoleiras, aquilo não tinha qualquer sentido, mas fomos e nos divertimos muito.

Tiramos fotos em frente a estatua da liberdade, quero dizer, de um lugar onde se via a estatua da liberdade e dava para a gente tirar fotos da mesma sem ter que chegar até ela. Estivemos nas torres gêmeas, “Twin Towers”, elas ainda existiam. Gostava de ver o guia, que era de lá, falar com o sotaque inglês “Torres gemelas”.

Nova York nos acordava cedo, o barulho ensudercedor das sirenes dos carros de policia nos tirava da cama. Aquela cidade parece só ter carros de polícia, de bombeiros, ambulâncias, enfim, é um som típico de Nova York, a gente vê e ouve isto nos filmes, aliás, era como eu me sentia ali.

Estivemos no bairro chinês, onde alguns compraram falsificações de relógios de marcas. Eu me contentei a comprar pratos chineses e alguns jogos, gosto do que é verdadeiro, aliás, não sei enganar ninguém, se usasse um relógio de uma marca retada que fosse falsificado, certamente, todos perceberiam, mas tem gente que sabe disfarçar bem e, por isso mesmo, as compras foram promissoras naquela “China Town”.

Depois, acho que dia seguinte, estivemos no Bairro Italiano. Tenho fotos, lembra que tirei a foto do garçom? Ele era lindo. Ficamos ali sentadas, tomando, pasmem! Café! Que falta de gosto, mas estávamos cansadas, as fotos demonstram isto. Numa delas, você, como sempre moleca, aproveitou que uma de nossas colegas sentou no chão, e estendeu-lhe a mão com uma moeda, não antes sem avisar-me para que eu captasse o momento, o que foi feito.

Fomos ao Queens, ao Brooklyn, atravessamos de barco não me lembro de onde para onde, fomos ao correio onde, com o meu quase nenhum inglês, enviei, para a França, pacotes de cigarro para a sua irmã.

Um dia, fomos almoçar em um restaurante próximo ao Hotel. O promoter, acho que é este o nome, já tinha vindo ao Brasil e entabulou uma conversa comigo levada na raça mesmo, ele falava de um amigo que morou no Rio de Janeiro, que trabalhou na marinha. O homem era “bicha” e falava, falava, falava, eu entendia 60% do que ele dizia, mas ele se empolgou ao falar do amigo, resultado: tivemos uma grande assistência no restaurante. Mas você e Carlos aprontaram comigo. Lembra que um garfo caiu no chão? Você lembra onde ele foi parar por obra sua e do outro sacana? Na minha bolsa. Só descobri depois que sai do restaurante, e quase tenho um filho colorido, só de pensar que se eles tivessem percebido estaria eu, quem sabe até hoje, com um processo nos Estados Unidos e sem direito a ali retornar, talvez até com direito a manchete no jornal, enegrecendo a mim e ao judiciário brasileiro, mas vocês sequer pensaram nisto e me botaram nesta merda. O garfo ainda tá La em casa. Como o restaurante era bom e caro, o garfo continua bom, quem sabe ainda faço um leilão dele.

Ta lembrada da emoção ao chegarmos ao Central Park?

Estivemos no Cais nº 5 ou 50, talvez, 52. Você lembra? Lembra que eu me escondia porque tinha visto uma advogada, que fora minha colega no ginásio, e eu não queria falar com ela?Pois, isto aconteceu. Rimos tanto naquele lugar...

Pois é minha amiga, foi uma grande viagem, tenho fotos de você na porta do edifício do Donald Trump, acho que é este o nome, onde o Carlos comprou uma gravata de para lá de 150 dólares, e olhe que estava em promoção, uma camisa de mais de duzentos. Isto já tem mais de 18 anos.

Depois desta viagem fizemos muitas outras, em território nacional ou não, nos divertimos a bessa com tudo, até da alegação da minha gravidez, que você e Carlos diagnosticaram para o homem do restaurante, a fim de que ele lhes dessem, quero dizer, a nós, o frasco de pimenta, que era sensacional. Nessa viagem, tipicamente nordestina, estávamos em quatro, eu você, Carlos e o nosso outro parceiro, tanto seu quanto meu, eu o adorava, aliás, continuo adorando, não é a distância que faria acabar o meu amor por vocês dois. Afinal não é todo dia que alguém escolhe o vestido com o qual você vai ao casamento de um filho, e nem compra sandálias para lhe oferecer, apenas e tão somente, porque vê nela o seu pé e acha que vai ficar mais de que bem. Usei muito a sandália, embora o vestido, usado em dois casamentos, não deu muita sorte aos nubentes, ambos os consórcios já acabaram. Para dar mais originalidade a esta passagem do nordeste: Tu lembras do amigo do nosso parceiro que nos ofereceu um jantar, acho que na Paraíba? Tu lembras que o “straga o bofe de camarão” quase estragou os nossos dentes? Tu lembras o motivo do bicho ter ficado tão duro? É que fora feito, ou esquentado, no micro ondas. Pois, comemos aquilo não sem muita troca de olhares e muitos risos, ficamos com muita pena da aflição da esposa do ex colega de trabalho do nosso parceiro.

Tu lembras da feira de Caruaru? Lembra que fomos a um restaurante e pedimos galinha a cabidela, e você, sem que o prato tivesse vindo para a mesa, disse que não ia prestar, porque estavam fritando a galinha antes, diante da grande admiração do nosso parceiro, que dizia “esta mulher tem um nariz!” Visse?

Tu lembras da minha boca toda pipocada de tanto chupar pitanga no hotel em Garanhuns, a Suíça brasileira, segundo vocês. O pior é que era frio mesmo.

Tu lembras em Maceió, nas Alagoas, que você e Carlos resolveram que deveriam circundar a piscina de cascos de cerveja, bebidas por vocês dois. Evidente que não conseguiram, acho que estavam bêbados até hoje. Lembra da “maioria gosta” da galinha de molho pardo em Ilhéus Fiz uma crônica sobre isto. Lembra das nossas idas ao Morro de São Paulo, Boipeba, Guaimbim? Que maravilha e quanta saudade!

Você sabe que tenho muito mais coisas para contar de nossas andanças pela Bahia, pelo Brasil e pelo mundo, além das viagens do coração e da emoção.

Pois é minha amiga. Tenho uma saudade imensa de tudo isto, do nosso companheirismo, das nossas crises, dos nossos encontros e desencontros, das nossas críticas, dos nossos problemas, muitas vezes resolvidos calados sem que uma dissesse a outra, mas ambas com a certeza de que não estávamos bem.

Não sei o que diga. Espero, apenas, que um dia, que os nossos corações agüentem, o seu eu sei que é forte, ele já teve interferências exteriores para se agüentar firme; o meu é fraco, ainda é originalíssimo, fraquejando ultimamente, pela dor de perder muitas coisas boas que saíram da minha vida sem me pedir autorização para tal, possamos reatar a nossa amizade, ela me faz uma falta imensa. Queria muito que você conhecesse e, sei que isto aconteceria, admirasse, o seu afilhado, ele é maravilhoso, critico, gozador, inteligente. Você vai ficar encantada. Certamente não faremos mais viagens juntos, eu você Carlos e o nosso parceiro. Já não tenho mais o Carlos, mas eu to aqui, se você precisar de uma “amiga”, “companheira”, “parceira”, “cúmplice”. Estou no aguardo de um sinal, que possa, de novo, abrir a portas dos nossos corações, para que possamos, se não fazermos grandes viagens, sentirmos emoções de recordá-las na companhia uma da outra, e de um nosso velho e bom aliado: Um vinho tinto!

Saudades!!!!!!!!!!!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Galinha ao Molho Pardo! Quer mais?

E lá se foram todos. Ela e o companheiro, a amiga e o marido, e muitos outros. Era um evento jurídico, portanto, aqueles que quisessem, inclusive receber títulos e louvores, estavam lá.

Diferentemente da grande maioria, ficaram hospedadas em um hotel que pertencia a um antigo e bem quisto, serventuário da Justiça, daqueles que ganham mais de que os pobres e coitados substitutos, e até mesmo titulares, os ex antigos “chefes de secretaria”.Bem verdade que, quando começou a “juizar”, só restavam três deles, mas isto nunca impediu, que eles, sapientemente, diferentemente dos mais jovens, preservassem as antigas amizades com os seus “superiores” e conquistassem alguns, nem tão superiores assim, mas que, pela liturgia do cargo, deveriam ser assim ser considerados.

O certo é que um deles tornou-se proprietário de uma bela e rústica pousada em São Jorge dos Ilhéus, onde aconteceu o evento. Um Congresso, do qual já não se recorda o nome, pois que todo o Congresso que se preza tem um tema, que, vira um nome  pelo qual é divulgado, e que, na sua repetição anual, ganha o romano correspondente.

Ficaram nesta pousada, ela e o companheiro, sua grande e, à época, inseparável, amiga mais o marido, uma xará da sua irmã, e mais um futuro, senão, já eleito Presidente do respectivo Tribunal, bem como a família desse.

O ambiente era o melhor possível. Comparecia-se às conferências, mas depois as conferências piscinais eram mesmo interessantes, com certeza, muito mais que as primeiras, embora tivessem de se fazer presentes a essas, afinal tinham que dizer a que foram.

Apesar da existência do buffet no restaurante do hotel onde o evento se realizava, bem como uma grande quantidade de restaurantes oferecidos pela bela e turística cidade de Ilhéus, eternizada e internacionalizada por “Gabriela” de Jorge Amado, que mostrou ao mundo a sensualidade de se mostrar uma “calcinha” a “baiana”, com gosto de quibe e mais outras guloseimas, afinal o “cacau” do Nacib também restou internacionalizado, virando uma vedete chocolatada, produto de exportação, variando de tamanho ao gosto de cada cliente, voltavam ao hotel. Bom, o certo é que, mesmo com toda a oferta gastronômica da cidade, este grupo quedava-se na pousada onde se fazia uma comida caseira de excelente qualidade.

A primeira experiência do grupo ao optar pelo restaurante da pousada foi maravilhosa, pois todos, sem exceção, apreciavam uma boa “galinha a molho pardo”, todos sabem o que é, não é? Aquela galinha que se faz com o sangue da bicha. Em alguns lugares chamam de galinha de cabidela. Em Portugal tem arroz á cabidela. A galinha é feita juntamente com o arroz que é cozido no próprio caldo sangrento. Não adianta fazer cara de nojo, a porra é boa mesmo.

O frango, que era de quintal, estava maravilhoso, no ponto mesmo: nem mole e nem duro, com aquele aspecto que só frango criado em quintal tem, a pele parece que esta bronzeada e fica rija, não se desfaz quando cozinha, os pedaços ficam inteiros e definidos. O seleto grupo comeu que se enfartou. Os da cidade, que não acham mui facilmente o prato feito com frango de quintal, se deliciaram mesmo. Como estavam em um grupo muito seleto, não estavam muito preocupados com a boa educação, e o frango foi comido como deveria ser, com os ossos chupados, mastigados, nervinhos trucidados.

Dia seguinte, não se almoçou na pousada, alguns do grupo foram comer em um restaurante que servia bacalhau. Ótima pedida.

De volta ao hotel, a tarde convidava ao ócio, os dorminhocos de plantão foram tirar a sesta, era muito melhor não fazê-lo, porque os miseráveis iam dormir, enquanto os outros, que não tinham este hábito, ficavam bebendo na piscina, e aí, quando os “sacanas” levantavam fagueiros, os não dorminhocos estavam para lá de “altos”, mas tinham que fazer companhia aos descansados e, claro, ficavam muito mais altos ainda, à exceção de um deles, que sempre parecia não ter bebido nada, diziam alguns, que ele tinha uma enzima que lhe chupava todo o álcool ingerido, qualquer coisa deste tipo.

Bom, o certo é que, lá pelas 9 da noite, começam a chamar para o jantar. Lógico que depois de tanto álcool, nada melhor que uma boa comidinha caseira. Que seria hoje? Qual a surpresa?

Todos se dirigiram ao local das refeições. E aí, para surpresa dos comensais: Galinha de molho pardo! Sem qualquer outra opção. Ótimo. Como a anterior, estava muito boa mesmo, comeu-se à vontade. Digestivos na piscina, comentários sobre a galinhada, enfim, mais uma etapa vencida. Sono profundo

Dia seguinte, salvo engano, ultimo dia do evento. O jantar seria no local das conferências, jantar de despedida. Todos tinham de estar sóbrios, afinal, ali estava uma boa parte da população jurídica do Estado, e, portanto, estes pobres viventes tinham de bem se apresentar para não se tornarem alvos de críticas, futricas, comentários maldosos, embora nem todos tivessem esta grande preocupação.

Deram uma volta pela rua, mas voltaram e resolveram que, mais uma vez, iriam almoçar na pousada, ficar por ali pela piscina, tomar algumas, dar uma dormida, coisas deste tipo, para estarem bem apresentáveis à noite.

E assim se fez. Na beira da piscina foram servidos: peixes fritos, camarões, azeitonas, outros petiscos, cerveja com moderação alguma. Chegada a hora do almoço, que sempre era mesmo à ultima hora permitida, o séquito do presidenciável ou já presidente, vai se acomodar nas suas mesas ,e adivinhem qual era o menu! Claro! Galinha de molho pardo! Tudo bem que se goste deste prato, mas porra, comer três vezes seguida a zorra, fica meio difícil, inclusive porque o sangue dá um gosto adocicado, e a sua repetição, pode causar alguma náusea. A risada foi geral, pelo menos da mesa dela e da amiga e de seus respectivos companheiros. Duas pessoas críticas, como eram as duas, não paravam de rir e de gozar aquela situação, até que, o álcool e a intimidade permitiam, chamaram o dono da pousada, o antigo chefe de secretaria e lhe perguntaram qual o motivo de só servir “galinha de molho pardo”. Êle, muito convicto, disse: a maioria gosta. Bom! As duas entreolharam-se, e mais uma vez, desataram a rir. Ficaram a olhar as pessoas que ali estavam, eram muitos, bem verdade, mas não era possível que uma maioria gostasse tanto assim deste tipo de galinha que não pudesse existir uma variação. E aí, a mais sacana, faz a pergunta: e quem é esta maioria? O Homem, sem pestanejar e sem qualquer constrangimento: A maioria é o presidente (ou presidenciável).

Caíram todos na risada, mas não tiveram outra alternativa senão comer, pela terceira vez consecutiva, e pasmem! Pagando, GALINHA AO MOLHO PARDO!

Assim, se você estiver em um lugar em que esteja também um presidente ou presidenciável, seja de Tribunal, seja de Clube, seja de associação desportiva, seja da porra que for, tenha o cuidado de perguntar qual o seu prato predileto, pois você pode não ter o mesmo gosto da “maioria”, que, como sempre, vence e, no presente caso, COME. Bom Apetite!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Lisboa te espera

Não me canso de falar de Lisboa. Não sei como uma cidade tão pequenina pode ser tão bela, dar tanta alegria aos olhos.

Uma cidade que surpreende a cada dia! Quanto mais se anda pelos seus becos e ruelas, mais se descobre lugares lindos e bucólicos. Por vezes achamos que não estamos em uma capital, de tão sossegada que ela se mostra em alguns sítios. Chegamos a duvidar que estejamos no centro de Lisboa. Possivelmente isto se agradece, e muito, às suas ladeiras e escadinhas e, mais ainda, aos seus becos, que, aqui para nós: são extraordinários. Para nós brasileiros que, quando falamos em beco, temos até arrepio, Lisboa é uma amostra do que pode ser um beco. Tem gente aqui em Lisboa que nasceu, cresceu, vive e vai morrer em um deles. Ali, naquele mínimo espaço, há um mundo de amor, respeito, solidariedade. Enfim, em cada um destes becos podemos dizer que há uma família, com brigas, discussões, barracos, mas tudo se acaba quando a raiva passa, e o beco retorna á sua paz, com as roupas secando nos varais, numa harmonia de cores, bandeirolas gigantes de diversos formatos, de tetas a cuecas, estas últimas, usadas por mulheres.

Há becos de todas as maneiras: mais largos, mais estreitos, sem saída, em escadarias, em ruelas. Há os que começam com uma arcada, parecendo avisar que, aquele espaço é privado, tem dono, não se devendo ultrapassar as suas fronteiras, mas a gente não respeita este aviso e entra nele e se maravilha sempre. Cada um tem uma característica particular: do sujo, ao extremamente limpo e calmo. Do que tem flores nas sacadas das casas, aos que mostram sisudez, com as janelas hermeticamente, como diria minha amiga Malena, cerradas.

Gosto, particularmente, de andar pelas ruas de Alfama, de chegar até a Graça, de passar pela Costa do Castelo. Há uma profusão de escadinhas e becos em todos os lados. As escadinhas exigem preparo físico, são enganadoras. A gente pensa que ela está acabando, mas, uma virada para a esquerda, ou talvez para a direita, ela ainda está lá, esperando lhe vencer, literalmente, pelo cansaço. Nunca desista no meio de uma escadinha de Lisboa, você jamais saberá o que poderá perder se não alcançar o último degrau, isto também se aplica às ladeiras, isto é, não desista na metade de nenhuma delas, vá até o fim.

Esta semana, no sábado passado, depois de muito andar na “feira da ladra”, onde já lhes disse, vende-se de tudo; qualquer dia destes não vou me surpreender se encontrar um rolo de papel higiênico usado; é só o que falto ver, pois penico sem alça, tampa de vaso sanitário quebrada, lixeiras desbotadas, sapatos velhos e usados, chaves que não abrem mais nada, cadeados fechados sem chave, já perdi a conta. Enfim, se você vier a Lisboa e quiser e puder, traga as suas velharias, não são antiguidades, são velharias mesmo, quem sabe tem a sorte de alguém ser tão louco, que ache que vale a pena comprar o que você já não dá mais qualquer valor, parece que aqui, mais de que em outro lugar, nada se perde: tudo se recria. Bem...! Saí da feira da ladra e resolvi fazer um caminho diferente, até porque queria tirar foto do “urinol”, lembram? Resultado: sai na Costa do Castelo. Andei muito, estive em um bar que chama-se: “Restô do Chapitô”. Lembrem este nome, e se um dia estiverem em Lisboa, não deixem de lá ir. Tomei umas duas cervejas e continuei a marcha. Vim dar no Bar de Santo André. Como não queria, ainda, voltar para casa, e ainda era cedo para almoçar, resolvi que iria à Graça, e foi o que fiz. Atravessei a rua, subi a ladeira e segui para a esquerda, sempre em frente. Por ali vai dar na Igreja, onde fiquei por algumas horas. Eu não vou falar nada, vejam vocês mesmo, ainda que a foto seja uma porcaria, quero dizer, a fotógrafa não é boa.


Dali, depois de mais cervejas, sai para alcançar o Martim Moniz, isto descendo as escadinhas e becos. Perto de chegar à descida, que daria mesmo na Praça Martim Moniz, e que é a que sempre desço quando faço este percurso, vi uma subida. Pensei comigo, esta eu não conheço, portanto, não custa nada subir. Para melhor localizá-los, quando vocês aqui vierem, a subida fica quase em frente ao restaurante “Via Graça”, que como o nome já indica, fica na Graça mesmo. Ir a este restaurante, se você tiver cacife, é imperdível, embora eu, pessoalmente, não possa atestar a qualidade da comida, mas a vista é extraordinária. Bom, mas eu não quero falar de restaurante, porque se assim fosse, não poderia esquecer do “Faz Figura”, que fica logo ali, bem pertinho da feira da ladra. Este eu atesto, comida e vista.

O certo é que subi a tal da ladeira. É uma ladeira pequena, bem verdade, mas é muito íngreme, e quando a gente chega ao topo tá mais para morto do que vivo. Respire fundo! Você vai precisar de todo fôlego, porque o que vai ver é de prender a respiração.

Lisboa está a sua esquerda. Vire-se e fique de frente para ela. Não tenha medo, seu coração vai resistir, você só vai prender a respiração porque vai ser necessário. É tanta beleza que você tem de registrar de maneira intensa, e, por isso mesmo, tem de dar um grande e alongado suspiro. É como se você estivesse ali no Monte Serrat, em Salvador-Bahia, olhando para a Baía de Todos os Santos lá do alto e de longe, estou falando somente da sensação, porque não dá para comparar belezas tão diversas. Estamos no miradouro de Nossa Senhora do Monte. Daí você vê uma boa parte de Lisboa. Chegue mais para frente. Veja o Castelo de São Jorge, tenha a ilusão que ele está erigido numa ilha: é só uma ilusão. O que acontece é que, quando olhamos dali, parece que ele esta no meio do Tejo, dividindo-o numa parte direita e numa esquerda.

Fique de bobeira aí. Sente nos banquinhos do jardim, de todos os êles você terá uma visão magnífica, vendo ou não o Tejo. Há um terraço neste monte que me desperta uma inveja da zorra dos seus proprietários. Pense que os sacanas, no dia em que lá estive, estavam tomando sol, com direito a “chapéu de sol” e tudo, incluindo água, o que era um desperdício. Do terraço eles têm a visão privada do que é público, e de um ângulo só deles. Nós, brasileiros, íamos fazer farras homéricas naquele terraço e, certamente, não seriam regadas á água.

Vou ficar por aqui, mas ainda vou mostrar muito de Lisboa para vocês. Deliciem-se, ainda que as fotos sejam péssimas. Até a próxima.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A pedra verde


Floresceu em setembro, embora isto não seja, na sua família, um privilégio só seu, pois tem mais dois irmãos que, também, cumprimentaram a primavera. Parece que o verão tinha um efeito afrodisíaco para os seus pais, pois quatro dos filhos foram fabricados no verão, com certeza, e nasceram entre setembro e outubro, os outros dois desvirtuaram, nasceram no verão: janeiro e fevereiro.
O fato é que a primavera chegou e com ela a nossa flor, que, por ironia, não tem nome de flor, talvez porque a queriam forte, colocaram-lhe o nome de uma pedra. Claro que não uma pedra qualquer, não teria nenhuma graça ser chamada de diamante, ametista, topázio, turmalina; nenhuma dessas seria apropriada para a pessoa que teria de se apresentar sempre como uma fortaleza. Escolheram, talvez, não a mais valiosa, mas com certeza a mais bonita, a mais transparente, a mais verde delas, ressalte-se que, segundo os entendidos, o valor desta pedra se determina pela cor, tamanho, pureza e brilho.
Assim que, com dois atributos importantes veio ao mundo; o primeiro por ter nascido na primavera, estação em que tudo floresce; época em que, até o mais feio do mais feio fica bonito, porque tudo se transforma: as árvores estão mais verdes e cheias de folhas e flores, as cores ganham nuances diversas das normais, o arco íris desce e espalha as suas cores nobres, dando vida a tudo e encantando a todos. Depois, foi brindada com o seu nome, verde e forte como convém a uma pedra do seu quilate, e não só, também por ser o nome de uma Deusa Sagrada Inca, que aviva o coração e a inteligência e ainda tem poderes de cura. A estes dois atributos junta-se um terceiro: ter nascido no dia da “sorte”, não que a tenha tido sempre, mas nascer num dia treze pode ser um grande sinal, para aqueles que sabem aproveitar as oportunidades que a vida oferece. A evolução do ser que nasce num dia 13 é visível, quanto melhor quando é associado ao nome da pedra verde, porque dizem que esta também tem ligações profundas com a renovação da natureza. Passa-se por tudo, mas se sai de todas as situações, ainda que não vitoriosos de todas elas, consegue-se aprender com as derrotas, esperando sempre que estas signifiquem vitorias de outrem. Por último, mais um se adita aos demais, que é ser virginiano, no caso dela chata, meticulosa, critica, céptica, mas verdadeira, terrena, arrumada, organizada, solidária e, extremamente, responsável.
Teve uma vida atribulada é verdade, cheia de problemas, aliás, que não foram fabricados por ela, porque ela é uma mulher de soluções, e não de problemas, por isso mesmo formou-se em direito, para arrumar soluções para problemas dos outros. Não contente com a advocacia, procurou uma maneira maior de solucionar problemas, é certo que se especializou em apenas um ramo das soluções, mas com trabalho resolveu muitas questões do “trabalho”.
Trabalhou muito, mostrou a que veio, afastou-se das lides, mas não do trabalho. Continua tentando, senão resolver problemas, encontrar as justificativas para a existência deles em determinada área. Eclética, afastou-se mudando o rumo da sua “história” para tentar reproduzir a “história” de outros. Se de brancos ou pretos, não interessa, ao conhecimento não importa cor, sexo, idade.
Sempre a taxaram de louca, quanto pior quando tomou a decisão de se afastar da “justiça” e procurar descobrir a “Mama África”. Alguns lhe dizem que é surpreendente, outros, que é “louca” mesmo! Muitos outros adjetivos já lhe foram aplicados, desde “estupenda” até “inexpressiva”, naturalmente quem lhe deu este último deve se arrepender até hoje de tê-lo feito um dia, até porque, tornou-se inexpressivo, portanto, as palavras ditas deixaram de ter qualquer valor. Ela sabe, perfeitamente, que, jamais, em momento algum, em qualquer circunstância foi, ou será, “inexpressiva”.
Louca ou não, inexpressiva ou não, reproduziu, não como queria, mas o fez. Esperança, com certeza, é o que não lhe falta, talvez por esta, também, ter a cor verde, e, por isso mesmo, continuará aguardando que o rebento, como a primavera, “rebente”, aconteça e mostre todo o seu colorido e todos possam perceber que, alguns precisam de mais tempo, e de dar mais cabeçadas para passarem pela vida com sucesso, afinal, nem todos nascem no dia 13 e nem em setembro, passam do tempo e da hora e ficam “balançados” até que encontrem o equilíbrio necessário. Até lá estão marrons, mas, com certeza, ganharão o brilho do dourado, porque o marrom vai clarear tanto que chegará ao “ouro”, ao resplandecente, embora nada e nem ninguém jamais ofusque a pedra verde, por mais tentativas que façam.
Hoje a pedra verde faz 57 anos. Não há comemorações, pois o nascer na primavera já é uma comemoração que se renova a cada ano. Não é preciso de nada, sequer das lembranças dos demais, lembranças que podem ser mais uma obrigação de que qualquer tipo de “sentimento”, por isso mesmo nunca gostou de dividir com ninguém o seu momento, seja em tempos de “vacas gordas” seja em tempo de “vacas magras”.
Ultimamente tem passado só a “passagem dos seus anos”, o seu ano novo, que é só seu. Um ano novo que sempre espera “esperançosamente”, seja melhor do que o anterior, mas numa comemoração solitária, embora dividida com o universo, se necessário, pois sempre está apta a solicitar a ajuda dele para todos, os bons e os ruins, os que lhe fizeram mal e os que lhe fizeram bem. Os maus para que tomem bem noção dos erros praticados e das conseqüências que advirão deles, pois tem certeza que nada, e nem ninguém, escapará da lei universal da causa e efeito; os bons para que sigam em frente cada dia melhores.
Sejam felizes, e acreditem: é um privilégio ser treziano, virginiano, ser forte (pedra) e ter o nome da cor da “ESPERANÇA”. Todavia, atenção! A pedra verde é sensível, qualquer queda, qualquer mudança de temperatura pode causar-lhe dano, e nada pior de que uma preciosidade desta riscada, marcada por elementos exteriores. Também não lhe seja infiel, pois, de acordo com a lenda, isto pode lhe tirar o brilho e a cor. De qualquer maneira, ser dono de uma pedra desta, ou melhor, tê-la à mão sempre que necessário é privilégio de muito poucos, portanto, se você é um privilegiado, conserve e trate muito bem dela, o seu valor é inestimável, se você não tem, não se preocupe, vá à Colombia, lá tem um museu que lhe é dedicado, porquanto não só de pó aquilo lá vive.

domingo, 5 de setembro de 2010

Minha Mãe e a Pátria Amada


O consultório do Dr. Renato ficava na Rua Chile, no prédio onde fucionava  a Associação dos Comerciários da Bahia, ou talvez o Sindicato deles, não me lembro bem. Naquela época, salvo engano, morávamos em Itapagipe, no Armazém Brasil, que era explorado por meu pai, que explorava a minha mãe, que além de fazer os serviços da casa, embora nisto fosse ajudada por mim, que era obrigada a passar óleo de “peroba”, aquele que tinha o rosto de um cacique no rótulo, nos rebuscados móveis da casa; tomar conta dos filhos, que à época eram ainda três, ainda tinha de fazer toda a comida que era servida no bar, além de ajudar no balcão.

Bom, mas todo este labor não impedia que fôssemos, ao menos, de seis em seis meses, ao dentista. Íamos eu, a minha mãe, minha irmã Elisa e Tininho. Eram muitas pessoas na sala de espera, que, se bem me lembro, ficava no corredor: cadeiras de um lado e de outro encostadas nas paredes, o ambiente era escuro, o chão de tabuado e as paredes, salvo engano, eram divididas até a metade com um espécie de papel de parede, uma madeira que circundava toda ela, e acima desta madeira vinha a pintura normal com tinta.

Eu sempre ficava encantada com o prédio da Associação, um prédio centenário, que ainda hoje existe; está lá, muito velho, quase caindo aos pedaços, mas continua em pé, com a sua imensa porta de madeira de dois lados. Fica na esquina da Câmara Municipal de Salvador, na mesma praça, para quem não sabe, do Elevador Lacerda.

A entrada do prédio é por esta rua lateral, mas o prédio tem toda a sua fachada do lado esquerdo, na Rua Chile, de frente ao Palácio Rio Branco, antiga sede do Governo da Bahia. Não me lembro se nesta época a minha tia Aércia já trabalhava, mas fui, muitas vezes, ao Palácio vê-la, pois, em algum período ela trabalhou ali com certeza, acho que pelos idos de 66-67, quando tinha eu entre catorze quinze anos, até porque adorava ser elogiada por um colega dela, um moreninho, de quem que já não lembro o nome.

Continuando, o prédio da Associação tinha uma escadaria linda, e tinha um elevador, daqueles que a porta é uma espécie de sanfona, toda de cobre, acho que era este o material, mas de um tipo maleável, que permitia que ela encolhesse e liberasse a saída. Ainda temos alguns prédios que tem estes elevadores; em Lisboa, então, é muito comum. A cabine era minúscula e só cabiam três pessoas, mas de que isto era suicídio, portanto, quase sempre, tínhamos de subir as escadas, pois o consultório do dentista era no segundo andar.

Chegávamos à ante-sala e ela já estava cheia, afinal não se pagava nada pelo serviço de dentista, ou melhor, os comerciários davam a sua contribuição mensal, e recebiam o atendimento, para si e para os familiares, o que era o nosso caso.

Como, às vezes, passávamos horas a aguardar a vez, minha mãe aproveitava o tempo para exercitar uma função que lhe era nata: ensinar. Sempre levávamos lápis e cadernos. Um de nossos cadernos, não esqueço até hoje, aliás, uma pratica que deveria ainda existir, tinha na capa de frente uma paisagem com árvores, bichos, representando a natureza do Brasil, se bem que em tinta azul; e na capa de fundo, a letra do Hino Nacional.

Minha mãe fazia ditados, ou seja; falava um texto e eu e Elisa tínhamos de copiá-lo, depois ela via os erros e corrigia-os, não sem um grande sermão, e às vezes um tapinha nada recomendável. Um dia ela resolveu que nós tínhamos de ler toda a letra do Hino Nacional, o que fizemos; depois, de linha a linha, ela procurava tirar de nós o que entendemos daquela leitura, qual o significado daquela frase. Lógico que este exercício, dado ao tamanho do hino, não acabou ali, passamos, eu e Elisa, dias a analisar aquela letra gigantesca que descrevia o Brasil em toda a sua plenitude e grandeza.

Não gostamos nada disso, nem eu e nem Elisa, mas hoje agradeço imenso a minha mãe ter nos obrigado a este exercício de interpretação. Aliás, este estudo detalhado da letra do nosso Hino Nacional deveria ser um exercício normal e cotidiano entre todos os estudantes do ensino médio no Brasil. Sou do tempo que, mesmo iniciada anos antes pela minha mãe, tinha obrigação de, todas as quintas feiras no colégio, hastear a Bandeira e cantar o Hino Nacional. Fiz isto até os quinze dezesseis anos de idade, e só deixei de fazê-lo porque fui estudar à noite no Colégio da Bahia – O Central.

Por minha mãe aprendi que o hino usa uma linguagem figurada, que “deitado eternamente em berço esplendido” não significa que se faz apologia da preguiça, e sim que o Brasil esta numa posição por demais privilegiada no que diz respeito ao seu território e ao seu relevo. Que quando a letra se reporta ao Brasil como Florão da América, “Fulguras ó Brasil Florão da América, iluminado ao sol do novo mundo”, quer dizer que o Brasil brilha dentro do continente Americano pela sua grandeza, pelo seu povo e que suas riquezas naturais, e que um novo mundo, a partir da liberdade assegurada pela Independência, seria garantido. Enfim, conseguimos, através de minha mãe, saber o significado do Hino para o povo brasileiro, qual a sua representação, e porque ele devia ser cantado com orgulho por todos, que deveriam sempre estar envaidecidos de ser brasileiros e livres e, de, se necessário, defender esta liberdade e a igualdade que ela tenciona proporcionar, caso alguém a ela se oponha.

Pois, agradeço a minha mãe saber toda a letra do nosso Hino Nacional, de saber que os seus autores foram: Joaquim Osório Duque Estrada (letra) e Francisco Manoel da Silva (música) e também respeitá-lo, como deve ser respeitado, como um símbolo de brasilidade (nacionalidade). Não posso entender que alguém, ainda que seja em jogos de football e em eventos esportivos internacionais, não tenha um calafrio, um arrepio, de pé à cabeça, ao ouvir o nosso Hino, que nos emociona por demais quando a sua letra nos lembra que somos todos irmãos, porque “dos filhos deste solo és mãe gentil PÁTRIA AMADA BRASIL”.



sexta-feira, 3 de setembro de 2010

AURENTINO MARTINEZ GARCIA: Meu Pai!

Escritores sempre deveriam estar bêbados, ou quiçá, drogados! Por que digo isto? Porque bêbados e drogados, acho eu, são capazes de dizer e fazer o que lhes vem na alma. Não estranhem que lhes digo, apenas tentem compreender. Todos nós somos contidos pelas forças sociais, devemos nos comportar dentro dos padrões, caso contrário, somos considerados como marginais, que significa à margem do social, do que é aceitável.

Assim, quando bebemos, que não é muito diferente de que quando nos drogamos, porque o álcool funciona como um alucinógeno com o outro qualquer, a variação, acho eu, deve ser na intensidade, fazemos coisas que temos vontade, sem nos preocuparmos com o amanhã, porque quem se droga, seja no álcool ou com qualquer outro tipo de droga, simplesmente não pensa no amanhã, quer viver o hoje e o agora na maior intensidade possível. Por isso mesmo todos os recalques (vontades escondidas) vêm á tona, como coisas normais e queridas.

Tenho quase certeza que funciona assim.

Por que começo um texto desta maneira? Porque quero dizer alguma coisa sobre alguém, mas quero dizer como deve ser dito, sem subterfúgios, sem traumas, sem meias palavras, e quero dizer exatamente do meu pai. Bebi, não estou no meu estado normal, portanto posso ser verdadeira além do limite que me estabeleço para tal.

Meu pai! Um espanhol. Não um espanhol qualquer. Um espanhol galego. A Espanha tem disto, você é tanto mais espanhol se for, mais galego, mais catalão, mais basco, e esquecem que a Espanha é única, não é dividida. Ainda não compreenderam que não é  vivendo sozinho que se alcança o respeito, a soberania e nem a nacionalidade, mas isto agora não está em causa. O que está em causa é o meu pai, um galego, que, por acaso, admirava Franco, mesmo tendo sido ele a causa da sua migração completamente involuntária, pois ninguém abandona pai, mãe e a família, em geral, salvo se não tiver uma causa muito forte. A do meu pai foi ter sido forçado pelos meus avós a abandoná-los em nome da sobrevivência. O amor pela vida dos filhos foi mais forte aos meus avós, do que mantê-los junto a si e vê-los morrer inultilmente.

Por isso meu pai veio ter ao Brasil aos treze anos, não só ele, como o meu tio Alfonso, e mais muitas outras dezenas de espanhóis, galegos ou não.

O que se faz aos treze anos num país estranho? Num país que sequer fala a nossa língua? Bem verdade que a Tia Palmyra e o Tio Augusto estavam na retaguarda, mas esta retaguarda era a comida e a dormida. Onde estava o amor? Onde ficou a sensibilidade do ser filho? Onde ficaram as recordações de um afago, de uma passada de mão pelos cabelos, de um perdão pelas coisas erradas da infância? Onde ficou o receio da repreenda de um pai, que, mesmo rindo por dentro, tinha que fazer o seu papel, mesmo tendo praticado as mesmas merdas outrora, desejos outros da juventude que valeram ralhações dos próprios pais? Pois é! Meu pai não teve nada disto. Aos treze anos teve de assumir a sua própria vida, assumir a condição de “macho”, ser involuntariamente um homem sem a condição de sê-lo.

E o que aconteceu em razão disto? Vou tentar lhes contar, embora jamais, em tempo algum, possa eu, ou qualquer outra pessoa, dizer o que se passou de verdade, seja pela cabeça do meu pai, dos seus irmãos, das pessoas com quem ele conviveu, dos seus próprios filhos e da sua mulher, a minha mãe.

Do que me recordo, pois quando nasci o meu pai já tinha 33 anos, ele era lindo! Não é nenhuma apologia da beleza do meu pai, ele era lindo mesmo. Um homem de sua época, mas com um grande diferencial: cabelos finose bem tratados, sempre arrumados, nariz de deuses do Olímpio, corpo para lá de perfeito, hoje em dia, “malhado”. O homem era mesmo um deus grego, minha mãe teve todos os motivos para se apaixonar por aquele galego. Vestia-se para lá de bem, afinal era o manequim “vivo” da Loja Renner de roupa masculina, que pertencia a membros da família, diziam até que ele era sócio, não posso garantir.

Vi, apesar de não saber onde estão ou onde foram parar, diversos retratos do meu pai na loja: um deles, que me despertou a atenção em particular, estava ele de calça branca de linho (diagonal) para quem não sabe, uma espécie de linho da maior qualidade possível, cujos fios são tão unidos que o pano tem uma queda, quero dizer molejo que nem dá para crer, hoje já não se usa e, talvez nem se faça, diagonal assim, há uns dez anos o Dr. Carlos Alcântara ainda usava, camisa de cambraia de linho branca, uma gravata bege ou marrom, já não me lembro, ou melhor, não sei identificar, porque a foto era marrom, cinto e sapatos da mesma cor. Bom! Se a roupa não era a propaganda, o garoto propagando o era. O nariz fino, o corpo delgado, o sorriso maroto, as mãos displicentemente colocadas no bolso, seriam suficiente para que se visse ali um homem para mulher nenhuma colocar defeito.

Bom, o fato é que o retrato, como era chamado a “fotografia” antigamente, retratava o físico, aliás, como até hoje, o aparente, pois o real não é apreendido por ela, porquanto o real é o que vai à alma de alguém, e a alma fica marcada por tudo o que se passou na vida, e, infelizmente, quando ela resolve demonstrar que é viva, que é presente, e o que ela realmente é, de nada adianta a beleza exterior, pois ela se apresenta com toda a sua força, com toda a sua realidade, seja boa ou má..

Assim é que a vida marcou o meu pai, que, pelo sofrimento, pela falta de amor recebido, não soube amar os seus filhos, talvez nem sequer tenha sabido amar a sua mulher, ou tantas outras que passaram pela sua vida.

Quiçá, não posso garantir, o seu amor tenha sido transformado em ódio pelo que ele não pode ser e não pode dar. A sua frustração de si foi transformada em agressão para os que ele, talvez, tenha mais amado na vida: a sua mulher e a sua prole.

Humilhou a todos: não sabia expressar o amor, mas sabia, e muito, expressar o desprezo, o ódio, a raiva de não ter sido filho, de pensar não ter sido amado, quando a maior prova de amor dos seus pais foi, exatamente, tê-lo mandado embora da Espanha, não só ele, mas aos outros dois irmãos. Não me recordo de ver um gesto de carinho de meu pai, a não ser no dia em que passei no vestibular. Na realidade, não era um gesto de carinho, era uma expressão de orgulho de me ter por sua filha. Não que ele tenha me parabenizado por isso, mas eu sabia que aquele tinha sido um momento muito importante na sua vida. Afinal, eu, aos dezenove anos, estava realizando um possível sonho dele. Se não por ele mesmo, acho que ele queria esta realização, um filho seu estava entrando para a Universidade, quanto melhor, seria um doutor em Direito, um advogado. Sim, este era um sonho de muitos pais, não só do meu pai galego, mas de muitos, ricos ou pobres pais. Passar num vestibular da Universidade Federal da Bahia era um sonho de consumo de muitos, e a filha dele tinha conseguido; talvez não fosse a filha a vitoriosa, aquela poderia ser a sua vitória, dele e da minha mãe, afinal, eles me criaram, eles eram o responsáveis por esse feito.

Estava ele orgulhoso mesmo, mas a cachaça não deixou que ele demonstrasse o amor, apenas permitiu que ele mostrasse o valor da sua filha para os seus amigos bêbados, todos felizes porque a filha do “espanha” seria uma doutora.

O tempo passou. Ainda que, como uma provável doutora, tenha sido muitas vezes humilhada, ofendida, até mesmo agredida por meu pai. Tive inúmeros problemas com ele, pois, de todos os seus filhos, a única que lhe conseguia  dar “testa” era eu. Desde as coisas mais insignificantes, quando brigávamos quando ele dizia que no Brasil faltava homens como “Franco”, até coisas importantes, quando tive eu de quebrar garrafas de cervejas e outras bebidas, porque ele não podia mais beber por estar com câncer na garganta, e ter sido proibido de ingerir qualquer bebida alcoólica.

Meu pai conseguiu conduzir-me ao altar para me casar com a pessoa que, talvez, ele mais tenha admirado na vida, o doutor delegado, ficava entusiasmado de falar sobre o meu ex marido, que para ele nunca o foi, quero dizer, ex marido, parece que para ele o tempo tinha parado e aquele homem tinha virado o “Deus”. A doutora Esmeralda já não existia, quem existia para todos era o “marido dela”. Agora a sua filha passara, mais uma vez, ao segundo plano, o importante era o Dr. Delegado.

Contudo, dei ao meu pai todas as alegrias que um homem, como pai, pode ter tido. Tornei-me a Bela. Esmeralda Simões Martinez, filha de Aurentino Martinez Garcia e Yvone Simões Regis Garcia,  para orgulho só dele, passei a ser a Sra. Esmeralda Martinez Barbosa, ato continuo, virei a mãe do seu neto, Fabio Martinez Barbosa. Se vivesse ele hoje teria um orgulho da porra de ter visto a sua filha virar a Doutora Juíza Esmeralda Simões Martinez, a historiadora e Mestre Esmeralda Martinez, a doutoranda Esmeralda Martinez, a escritora Esmeralda Martinez,(pretensão) a que valorizou o seu “appelido”, como se diz em bom espanhol, MARTÍNEZ.

Tudo isto foi preciso que se passasse para que esta filha pudesse entender e aceitar 90% do que o seu pai lhe fez passar e sentir, mas com certeza, tudo redimido no momento em que, no ato final, no momento da sua morte, presenciou um dos mais belos gestos de amor de um ser por outro: “o esforço do meu pai para tirar a aliança de casamento do dedo e colocá-la no dedo da minha mãe”, depois de uma vida de muita dor e, talvez, de muito amor entre os dois, amor que ambos, não souberam como partilhar com os seus filhos.